segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cães de Aluguel



O pôster da produção

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Cães de Aluguel é o primeiro filme do badalado diretor norte-americano Quentin Tarantino. Lançado em 1992, logo o longa-metragem se tornou um cult entre cinéfilos de plantão. Com uma narrativa entrecortada que vai e volta no tempo, violência, humor negro e personagens que não param de falar, Tarantino oferece um diferencial em Hollywood: um olhar sobre personagens absurdamente verossímeis de um mundo cruel que não fica muito distante do nosso.

No filme, Joe Cabot (Lawrence Terney) é um experiente criminoso que reúne um grupo de ladrões que não se conhecem entre si para assaltar uma joalheria. Cada um é identificado por uma cor, pois desta forma ninguém pode conhecer os detalhes da vida do outro e nem mesmo o verdadeiro nome. No entanto, o golpe dá errado quando a polícia surge de repente. Todos suspeitam de um traidor entre eles e as acusações entre os envolvidos crescem assim como o clima de tensão até o interessante final.

Como dito acima, a verborragia é um dos elementos presentes nas narrativas de Tarantino. Mas, mais do que isso, seus personagens falam besteiras como qualquer ser humano. Não se atém apenas ao roteiro. Não possuem frases prontas. Assim como na vida real onde não vivemos apenas um enredo, mas diversos enredos ao mesmo tempo. Este filme, por exemplo, começa com uma elucidativa explicação sobre “Like a Virgin”, de Madonna, oferecida por Mr. Brown (Tarantino em um papel coadjuvante).

Este é o talento de diretor que mais gosto: diálogos legais. O personagem pode ser um grande “filho da mãe”, mas fala coisas interessantes de se escutar. E todos os personagens demonstram através dos diálogos quem realmente são. Eles não dizem como são. Eles simplesmente o são. Como na vida real. Uma pessoa não chega para você e diz “sou assim, assim e assado”. Ela conversa com você e, desta forma, você descobre como ela é.

Outro talento de Tarantino é utilizar muito bem bons atores que, em geral, são sempre coadjuvantes em outras produções. Neste caso, dois grandes atores têm muito o que oferecer ao filme: Steve Buscemi e Michael Madsen.

Buscemi faz o personagem menos anormal da trama, o profissional Mr. Pink que tem como mantra o profissionalismo no mundo do crime (mas será que isso existe mesmo?). Já Madsen faz o assassino frio e doentio Mr. Blonde que é um verdadeiro psicopata. Aliás, ele protagoniza a cena que resume o filme: enquanto dança ao som de “Stuck in the middle with you”, Mr. Blonde tortura um policial com uma navalha. Enfim, uma faladeira inútil e muita violência. Com estilo.

Algumas curiosidades dos bastidores da produção do filme são tão interessantes quanto a própria película. Tarantino era um diretor desconhecido e não possuía nome para conseguir dinheiro com facilidade. A entrada de Harvey Keitel (Mr. White) para o projeto foi uma benção, já que o ator ajudou a angariar fundos para a produção.

De acordo com o site Cinema em Cena, “Tarantino queria que James Woods interpretasse um dos papéis do filme e chegou a fazer cinco diferentes propostas de cachê para o ator. Como todas elas eram bem inferiores ao que o ator estava acostumado a receber, o empresário se recusou a transmitir as ofertas para ele, que nem ficou sabendo da proposta. Quanto Tarantino se encontrou com Woods pela primeira vez, tempos depois, o ator ficou sabendo da proposta que havia sido feito na época do filme e ficou muito irritado com seu empresário, demitindo-o.”

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Breve Romance de Sonho



Para alguém com idéias tão ousadas, Fridolin não vai muito longe

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Sentir ciúmes é uma droga. O ciúme é um dos sentimentos mais nocivos ao ser humano. Ele pode se manifestar de várias maneiras (ciúmes de um objeto, pessoa, acontecimento, etc). Pode tornar-se algo mais destrutivo como a inveja ou até mesmo o ódio. E o pior de tudo: ele nubla o raciocínio. Um ser humano ciumento pode ser alguém extremamente perigoso. Tanto para os que estão a sua volta quanto para si próprio.

Foi esse o sentimento que o escritor austríaco Arthur Schnitzler atribuiu ao seu personagem Fridolin para que este se lançasse em uma aventura nublada como um sonho. O ciúme é o estopim de uma série de questionamentos sobre a vida conjugal da burguesia da década de 1920 e as motivações por traz da infidelidade.

Em Breve Romance de Sonho, o Dr. Fridolin tem uma vida próspera com a esposa Albertine e sua filha. Um dia, toda a certeza que possui sobre sua vida (e o amor que sua mulher sente por ele) é abalada com a confissão da mulher a respeito de uma antiga fantasia sexual. Dilacerado pelo ciúme, Fridolin tem de atender a um chamado no meio da madrugada. Ao encontrar o paciente que deveria prestar socorro sem vida, Fridolin não volta para casa. A morte do paciente o faz questionar-se sobre sua vida, as razões de levar a vida que leva e o direito que possui ou não de trair a mulher já que esta o traía em pensamento.

Daí em diante, Fridolin flerta com todas as mulheres que atravessam seu caminho, desde a mais inocente das garotas até a mais profissional das prostitutas, até envolver-se em uma estranha cerimônia que une sexo e morte de forma angustiante.

Em uma idéia: Fridolin é um covarde. Ele representa toda uma classe da sociedade que por mais que conteste a vida que possui não é capaz de deixá-la para trás devido aos privilégios dos quais deveria abrir mão. Fridolin não é apenas covarde como também tolo. Ludibriado por um sentimento rasteiro como o ciúme, ele atribui a mulher crimes muito maiores do que ela cometeu na realidade.

Fica-se na dúvida se ele fez isso para justificar os seus atos ou porque não gosta mais da mulher. Ou ainda – e mais provável – por não agüentar mais a vida monótona que leva. Uma vida sem sentido e vivida dentro de uma estrutura que parece não mudar nunca, assim como não mudam aqueles que vivem sob sua sombra.

Para alguém com idéias tão ousadas, Fridolin não vai muito longe. Apesar das aventuras em que se envolve, ele jamais ultrapassa uma certa linha imaginária da moralidade. Para ele, sempre há um certo e um errado, a atitude mais adequada a tomar ou uma ação da qual não pode ser protagonista devido a seu status. Por isso, Fridolin é passivo diante de tudo que acontece ao seu redor. E de tão covarde, sem nem mesmo ter cometido pecados, é capaz de pedir perdão.

Ao fim da curta narrativa, fica claro que Albertine é muito mais corajosa e verdadeira que o marido: mesmo que suas aventuras se dêem em sonhos ou fantasias, ela os divide com o marido e os vive (mesmo que na imaginação) mais intensamente que Fridolin em suas frustrantes investidas para fugir de uma estrutura da qual não consegue (ou não quer) escapar.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Guia do Mochileiro das Galáxias



Não entre em pânico!

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"Não entre em pânico". Esses são os dizeres em letras grandes na contracapa do Guia do Mochileiro das Galáxias, um best-seller interestelar para os viajantes do cosmos. Um livro muito bom, diga-se de passagem, para alguém que de uma hora para outra perde o seu lar e torna-se andarilho do cosmos em busca de um sentido para vida.

Arthur Dent (Martin Freeman), um britânico sem grandes metas na vida, está tendo um péssimo dia, pois descobriu que sua casa será demolida para a construção de uma rodovia. Mas o pior ainda estava por vir: Dent ficou sabendo que seu grande amigo Ford Perfect (Mos Def) é na realidade um alienígena e que o planeta Terra será destruído para construção de uma estrada interestelar. Sem opções, pega carona em uma nave espacial que estava de passagem para escapar da tragédia e passa a vagar pelo cosmos. Para sobreviver a um universo perigoso e cheio de criaturas estranhas e perigosas, ele precisa do Guia do Mochileiro das Galáxias.

O filme de Garth Jennings baseado na obra literária homônima de Douglas Adams é cômico e inteligente na medida certa. Mais do que uma jornada sem destino pelo universo, a narrativa mostra uma busca pelo sentido da vida. Dent é a encarnação da desesperança e sarcástico ao extremo, o que nos brinda com reflexões fantásticas sobre nosso dia-a-dia. Ainda mais com as situações em que se envolvem: burocracia, políticos corruptos, enfim, os mesmos problemas que encontramos por aqui, só que em outra escala.

Particularmente, não considero o filme comercial. Creio que a maioria do público achará que trata-se de um novo Star Wars e se decepcionará com a ausência de grandes cenas de ação ou os desabafos do robozão Marvin (voz de Alan Rickman, sem dúvida, o melhor personagem do filme). O que é frustrante, pois a película diverte e instiga a refletir com elegância.

Porém, mesmo para quem está atrás de um filme mais “cabeça”, talvez se decepcione com a falta de profundidade de algumas questões debatidas (isso é compreensível devido ao número vasto de temas levantados).

Se você não sair satisfeito do cinema, também não sairá com raiva achando que acabou de assistir a uma bomba. O filme pode não ser extraordinário, mas possui seu merecido valor.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Os Incríveis



O pôster do filme

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A Pixar já cativou seu lugar no mercado de animação. Suas produções são sinônimo de entretenimento de alta qualidade. É lógico que parte de seu sucesso se deve aos arrebatadores aspectos visuais de seus filmes totalmente produzidos digitalmente, mas também por seus roteiros: divertidas fábulas animadas que agradam a crianças e adultos. Sem falar nos personagens imensamente carismáticos. Quem assistiu a Procurando Nemo e não se lembra do pai super protetor Marlin? Depois de falar de brinquedos, insetos, bicho-papões e peixes, o novo filme da Pixar, Os Incríveis, traz como protagonistas os super-heróis.

Indo na contramão de outras animações que tentam reproduzir fielmente a realidade (e acabam mais evidenciando o irreal) como O Expresso Polar e Final Fantasy que mostram seres humanos idênticos a atores de carne e osso, Os Incríveis nos lembra a todo momento que aqueles personagens não existem de verdade, mas acreditamos nele. Todos os personagens são caricatos como um bom cartoon (o Sr. Incrível mal cabe no seu carro; Violeta é quase tão magrinha quanto uma vassoura), mas o visual é – mais uma vez – arrebatador e dá pra imaginar aqueles personagens caminhando entre nós. Os efeitos de luz e sombra, os movimentos e as bem produzidas cenas de ação fluem com naturalidade não dando aquele ar de “seres criados por computador”.

Esse filme leva as produções da Pixar a um novo patamar. Mais adulto que seus predecessores, oferece algumas piadas das quais apenas os adultos irão rir e trabalha com uma temática a qual homenageiam e avacalham ao mesmo tempo. Este provavelmente é o grande atrativo do filme, pois da mesma maneira que achamos ridículo alguém que coloca a cueca por cima das calças, somos capazes de torcer por determinado personagem e se identificar com ele. São ícones da infância e adolescência. Como no filme os personagens são desconhecidos para nós todos de alguma forma são referência a alguém conhecido. E identificar esses personagens é outra diversão.


Edna Moda é aquela personagem coadjuvante que rouba a cena sempre que aparece

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A família protagonista do filme, por exemplo, para alguns é a formação do Quarteto Fantástico. Tirando Flecha (um Flash de 10 anos), temos o Sr. Incrível que é invulnerável e super forte (como o Coisa), Violeta que pode ficar invisível (Mulher-Invisível) e Mulher-Elástico que pode esticar seu corpo (Sr. Fantástico).

Mas esses poderes também são reflexos bem construídos das personalidades dos personagens. O Sr. Incrível é um cara confiante demais, a Mulher-Elástico é versátil, Violeta é tímida e vive se escondendo e Flecha é como qualquer garoto de sua idade que não consegue ficar quieto.

Na trama, os super-heróis são proibidos de salvar o mundo pelo governo, pois diversas pessoas os processavam e isso acarretava sérios transtornos para a máquina administrativa estatal. Mas podemos simplesmente viver nossa vida sem demonstrar quem realmente somos? O filme é sobre o que cada um tem de especial, mostrando um ponto de vista diferente da temática de super-heróis que nem sempre é (bem) explorada pelos quadrinhos.

O vilão do filme possui planos justificáveis e ele não deseja simplesmente “dominar o mundo”. A produção só não conclui muito bem essa conversa sobre ser você mesmo ou não, pois os super-heróis, embora utilizem seus poderes para fazer o bem, ocultam suas identidades sob máscaras. De uma forma ou de outra, eles escondem quem são. E o porquê disso não fica bem claro para as crianças ao final do filme.

Li diversas críticas sobre Os Incríveis falando da mensagem subliminar de que precisamos de super-heróis no mundo real para lutar contra o mal personificados por terroristas ou coisas do gênero. Veja bem: super-heróis não existem. Não há dúvidas que personagens deste tipo são uma prova cabal do medo exagerado que os americanos nutrem pelo mundo ao seu redor. Medo este que os impelem a acreditar em homens que voam ou escalam paredes. Mas tendo em mente esta realidade, os super-heróis são divertidos personagens que enaltecem os nossos problemas cotidianos, enxergando-os com mais clareza. Às vezes, é necessário enxergar a realidade por outro prima para descobrir o óbvio: nossa realidade é cruel e deveras absurda. Muito mais absurda que uma história em quadrinhos ou desenho animado.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Chamado



O pôster da produção

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Quem não gosta de um filminho no fim de semana? Nada como passar na locadora e escolher um filme ao acaso ou ficar indeciso entre tantos títulos quando o que você procurava já havia sido alugado. Então, você encontra um filme bacana. Quando chega em casa, o que vê são cenas estranhas que parecem mais um bizarro pesadelo. Quando o vídeo termina, o telefone toca e uma voz diz “sete dias”. E, por mais sinistro que possa parecer, após a anunciada semana, o inocente telespectador morre. Acho difícil encontrar um VHS deste tipo por aí, mas esta lenda urbana, uma fita amaldiçoada que mata a quem a assiste é a premissa de O Chamado (The Ring), de Gore Verbinski.

Este filme fez um grande sucesso em 2002. Ele narra a história da jornalista Rachel Keller (Naomi Watts) que, após a misteriosa morte da sobrinha – que suspeitam estar envolvida com a sinistra fita – , resolve investigar a história atrás de uma boa matéria. Ela acaba assistindo o VHS e o telefone toca para sua tristeza. Então, ela parte numa busca desesperada pela verdade por trás das imagens da fita e do responsável pelas mortes. As coisas se complicam ainda mais quando seu filho também assiste a fita por acidente.

O Chamado é um filme espetacular. Daqueles que precisamos assistir até a última cena para entendermos tudo. À princípio, ele possui uma “cara” de filmes de terror adolescente devido a morte da garota no início do filme, porém, a imagem se desfaz rapidamente para nos permitir enxergar seu verdadeiro teor: um suspense interessantíssimo muito bem construído que, entre outras coisas, conta a triste história de uma garota.

Quando o desconhecido bate a nossa porta o que podemos fazer? Não há adolescentes perturbados mentalmente com facas na mão ou assassinos seriais atrás de mais um pedaço de carne, mas sim uma força sobrenatural implacável que mata sem motivo aparente. Não há violência gratuita, muito menos sangue jorrando. Aliás, cada gota de sangue tem sua razão. É muito interessante o recurso que é utilizado: toda vez que os protagonistas estão perto da verdade, o sangue começa a escorrer de seus narizes, prenunciando a morte que está por vir.



A assustadora Samara

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O trabalho bem feito com esta idéia da morte que está chegando e ninguém sabe como evitar é o grande suporte do filme. Todos sabemos que morreremos um dia. É nossa única certeza, mas não há datas ou horas marcadas. Mas e se soubéssemos do tal dia? Não faríamos de tudo para evitá-la? A busca desesperada de Rachel por uma solução para sua desgraça aliada ao seu arrependimento por ter visto a fita não seria nada sem um bom suporte técnico.

Aí entram os excelentes trabalhados de som e fotografia. A trilha sonora é boa, principalmente, por empregar um som específico para o áudio da fita. Quer dizer, mesmo sem ver, sabemos que a fita está sendo rodada e mais alguém está a um passo de receber mais um telefonema. E as cores todas voltadas para o cinza imprimem mais teor mórbido ao filme.

É óbvio que há sempre as perguntinhas do tipo “mas se eu assistir a fita num local onde não há telefone?” ou “morreremos em sete dias?” (há uma cena no filme que mostra ao espectador o conteúdo do VHS maldito). Mas trata-se apenas de um filme e nos deixando levar pelo clima, podemos curtir um entretenimento de primeira.

Eu só não entendo como uma mulher linda como Rachel e um cara como Noah (Martin Henderson), que não posso dizer que é feio, teriam um filho como Aidan (David Dorfman) que de tão assustador, em alguns momentos, torna-se mais sinistro que a misteriosa Samara Morgan.

O que muita gente não sabe é que o sucesso de O Chamado nos EUA não foi uma surpresa, pois trata-se de uma refilmagem de um filme japonês do diretor Hideo Nakata, chamado Ringu, que também fez grande sucesso. Ringu teve uma seqüência simultânea, no Japão, chamada Rasen, que foi um fiasco, e outra mais adiante que ignorava os acontecimentos de Rasen, intitulada Ringu 2. O fracasso se repetiu. O problema de ambas as seqüências é que elas ofereciam explicações pseudo-científicas para os fenômenos sobrenaturais que envolviam a fita. Ou seja, as tais explicações se perdiam tentando explicar justamente a graça do filme original que era o inexplicável.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Hitch - O Conselheiro Amoroso



Will Smith é o "Doutor do amor"

Imagem: http://www.moviemark.com.br/multimedia-files/hitch/hitch-p01.jpg


Você encontrou a mulher dos seus sonhos, mas não sabe como conquistá-la? Quando a encontra, gagueja tanto que não consegue nem convidá-la para sair? Então, você precisa urgentemente contratar os serviços de Hitch (Will Smith), um conselheiro amoroso responsável pela união de diversos casais de Nova York, que em troca de uma modesta quantia garante que “não importa onde, nem como, nem quem, qualquer homem tem a chance de ganhar qualquer mulher, basta saber como”.

O mais novo cliente de Hitch é Albert Brennaman (Kevin James), um homem totalmente atrapalhado que está apaixona pela bela socialite Allegra Cole (Amber Valletta). Albert representa os maiores medos dos homens tímidos quando tem de lidar com a questão do amor e por isso é um personagem de fácil identificação. Ele faz geralmente o que todo homem pensa que nunca deve fazer para estragar um encontro. Portanto, unir Albert e Allegra torna-se um desafio para o “doutor do amor”.

Apesar de Hitch ser um homem que compreende as mulheres ao ponto de vender os truques que conhece para fazer seus clientes felizes, ele próprio é um sujeito bastante solitário. Desde que viveu uma decepção amorosa nos tempos do colégio, ele nunca mais se apaixonou para evitar sofrer novamente. Mas ele acredita no amor e, por isso, uma de suas regras é apenas aconselhar homens que queiram algo sério com as mulheres que desejam, ou seja, em sua lista de clientes não entram aqueles caras que só querem uma noite mais quente.

Enquanto auxilia Albert durante sua empreitada, Hitch sente que sua solidão pode acabar quando conhece Sara Melas (Eva Mendes), uma linda jornalista que trabalha em um tablóide, que vive atrás de grandes histórias, entre elas, a do misterioso “doutor do amor”. O problema é que o sucesso do trabalho de Hitch depende do sigilo de seus clientes e ao se envolver com Sara, ele corre o risco de ser desmascarado.



Kevin Jamens é simplesmente hilário

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Afinal, o que as mulheres fariam se descobrissem que seus amados as conquistaram seguindo algumas fórmulas elaboradas pelo dono de uma grande lábia? Fora o fato de Hitch cobrar por seus serviços, ou seja, transformar um sentimento como o amor em um lucrativo negócio.

Além de divertido, o filme possui um diferencial: mostra o amor pelo prima masculino. O produto oferecido ao espectador não é um romance meloso ou uma trama que mostre que apenas as mulheres possuem sentimentos. A película é interessante por mostrar o lado mais sensível e vulnerável dos homens. E apresenta personagens tão devotos a suas amadas que são capazes até de pagar por um conselheiro que os ajude a atingir seus sonhos.

Hitch não é o único a dar conselhos durante a trama. A convivência com Sara lhe revelará que sua vida pessoal e sentimental podem estar em rota de colisão. Ele precisa aprender que o amor não é o resultado de uma conta matemática, por isso não o conseguimos com estratégias mirabolantes para armar os maiores encontros que uma garota poderia desejar. A conquista também se dá pela espontaneidade e coragem de revelarmos quem realmente somos.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eros e Civilização



Obra densa esclarece Freud para o grande público

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O filósofo Herbert Marcuse nasceu na Alemanha e radicou-se nos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial. Formou-se pelas Universidades de Berlim e Friburgo, foi conferencista em Harvard e Colúmbia. Professor de Política na Universidade de Brandeis e Professor de Filosofia na Universidade da Califórnia. Marcuse também é autor de Ideologia da Sociedade Industrial, Contra-Revolução e Revolta e Idéias sobre uma Teoria Crítica da Sociedade, entre outras obras.

Em Eros e Civilização, o autor baseia-se na teoria freudiana de que vivemos numa sociedade que reprime os instintos primários de seus indivíduos para dissertar sobre esta civilização. A livre satisfação destes instintos não permitiria o progresso de uma sociedade civilizada. Marcuse acredita que essa repressão cria as precondições para uma eventual abolição deste sistema e transformação da sociedade.

Um leitor que não tenha lido Freud não terá muitos problemas com a obra, pois sua primeira parte, intitulada “Sob o domínio do princípio de realidade”, busca apresentar os conceitos básicos de sua teoria. Este trecho da obra apresenta os mecanismos de funcionamento da psique humana segundo a teoria freudiana: o Id, o inconsciente, onde nossas fantasias se fixam e os valores impostos pela sociedade de repressão não possuem efeito; o Ego, a parte de nossa psique que conscientemente interpreta o mundo externo e o Superego, a ponte entre o mundo externo e o Ego, o local de nossa mente onde repousam valores morais que aprendemos desde a infância.

A primeira parte explana como se dá a substituição do princípio de prazer (satisfação imediata, prazer, júbilo, receptividade, ausência de repressão) pelo princípio de realidade (satisfação adiada, restrição do prazer, esforço, produtividade, segurança) imposta a todo indivíduo desta sociedade de repressão. E explica os dois planos em que a análise do aparelho mental repressivo de Freud possui efeito: o Ontogenético (a origem do indivíduo reprimido) e o Filogenético (a origem da civilização repressiva).

Segundo Freud, a civilização primitiva atendia seus instintos primários de imediato e isso não permitia um progresso. Uma evolução se iniciou quando o indivíduo deixou de lado a satisfação imediata para praticar atividades menos prazerosas, mas necessárias para a sociedade. Foi o início de uma substituição das vontades particulares pelas necessidades universais. Desde então, utilizamos nossas forças libidinais para a efetuação de outras atividades. Mas, particularmente, não temos a necessidade de trabalhar. A labuta é importante para a sociedade, não para o indivíduo. Para este, o trabalho apenas o faz sentir-se mais valiosos, cumpridor de sua função numa enorme engrenagem.

Na segunda parte da obra, intitulada “Para além do princípio de realidade”, o autor busca apresentar a hipótese de uma sociedade não-repressiva. Para atingir tal intento, ele busca na literatura os heróis culturais, personagens como Orfeu e Narciso, que lutaram contra essa renúncia de suas necessidades primárias. Apresenta as forças mentais que, segundo Freud, são independentes do princípio de realidade por sua falta de praticidade no mundo real: a fantasia e a dimensão estética, que se manifestam através da arte, por exemplo. E mantém-se vivas em nosso inconsciente como uma válvula de escape.

Porém, Marcuse acredita que uma civilização não-repressiva só seria viável quando a sociedade atingisse um alto grau de maturidade, necessário para reavaliarmos as relações de trabalho e entre os indivíduos que seriam completamente alteradas. Uma civilização assim, nos dias de hoje, seria uma barbárie. Além de que, segundo Freud, “a natureza não conhece o verdadeiro prazer, mas a satisfação de carências”. Parece necessário ao ser humano um obstáculo para “impelir a maré da libido ao máximo”.

Ao final de Eros e Civilização, Marcuse apresenta um epílogo, onde critica os revisionistas neofreudianos afirmando que algumas de suas propostas são errôneas e destoam com a teoria de Freud.

Eros e Civilização fala sobre o desenvolvimento da civilização através da análise de comportamento da sociedade e de seus indivíduos. Sem dúvida uma leitura interessante e recomendada, porém, tratando-se de um assunto muito específico, a psicanálise, a obra pode não agradar aos leitores pouco interessados pela área.

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. 232 p.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Final Fantasy: Advent Children



Os personagens de Final Fantasy VII estão de volta para o deleite dos fãs... apenas dos fãs

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Contexto

Final Fantasy é uma série de games produzidos pela softhouse japonesa Square Enix que praticamente tornou-se uma marca. Já existem mais de 10 títulos lançados com essa “marca” e cada um vende milhões de unidades no Japão e mundo afora. Porém, a série não possui continuidade. Ou seja, cada título traz uma trama diferente e novos personagens. Desta forma, Final Fantasy V não tem nada a versão com Final Fantasy VI e assim por diante.

Basicamente, o link que une todos os jogos lançados com o título Final Fantasy estão centrados no gênero do game. Todos os títulos são RPGs (Role Playing Game ou jogo de interpretação de personagens) onde o jogador controla um grupo de heróis que vive aventuras por um mundo fantasioso. Assim, a diversão é bem maior, pois não jogamos com um herói, mas vários. Cada um com suas próprias habilidades e fraquezas. Geralmente há um espadachim, um ladrão, um mercenário e assim por diante.

Outra característica marcante da série é que o mundo onde as tramas se desenrolam são lugares atemporais que misturam elementos futurísticos com clássicos de capa e espada. Ou seja, os personagens podem se comunicar por celular, mas também aprendem magias e lutam contra dragões e outros monstros míticos.

Mas a maior qualidade da série reside na qualidade dos enredos. Como esses jogos possuem horas e mais horas de duração, há tempo de sobra para criar uma trama densa e complexa e desenvolver cada personagem como em uma novela. Não há como não se afeiçoar até mesmo com o vilão a ser vencido. Enfim, o jogo é tão envolvente quanto um bom livro. A diferença é que podemos interagir nos rumos da história.



A cena do ataque do summon à cidade é uma das melhores do filme

Imagem: http://www.backfrog.com/images/060314-advent-children.jpg

Uma jornada ao cinema

Tendo em mãos um produto tão rentável quanto Final Fantasy, a Square decidiu produzir um filme sobre a série. Assim, em 2001, chegou aos cinemas Final Fantasy: The Spirits Within. Totalmente produzida em computação gráfica, a película é um deleite visual, porém desapontou completamente os fãs e foi um fracasso de bilheteria, pois, simplesmente, está a quilômetros de distância dos jogos da série.

Não traz vestígios de elementos consagrados da série de jogos e coloca informações demais em um filme com menos de duas horas de duração (talvez porque os produtores estivessem acostumados com as 60 horas de duração que cada jogo costuma possuir).

Por fim, ficou a sensação de que nunca mais veríamos Final Fantasy no cinema.

Contra-jornada

Em uma aposta totalmente inversa a anterior, a Square lançou no Japão Final Fantasy VII: Advent Children. Ou seja, ao invés de um filme para as massas, o público alvo foi restringido para os amantes da série mesmo, em especial aos jogadores que chegaram ao fim de Final Fantasy VII.

O filme é um epílogo para o game. A ação acontece dois anos após os eventos do jogo e, apesar da breve introdução que resgata elementos do game, fica praticamente impossível para um espectador que nunca ouviu falar daqueles personagens compreender a trama por completo. Nesse caso, fica para esse público o gosto de assistir a batalhas espetaculares que deixam Matrix no chinelo e se deleitar com imagens absurdamente lindas. Não há como não confundir os personagens gerados por computação gráfica com atores reais.




A luta de Tifa na Igreja é muito bem coreografada

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O game

Final Fantasy VII narra a história de um mundo onde uma gigantesca corporação chamada Shinra utiliza o Lifestream (uma energia que permeia toda a vida do universo) como recurso para abastecer a humanidade. Ou seja, a Shinra deteriorava a vida do planeta para oferecer uma vida melhor para seus habitantes. Só que se isso durar muito, não haverá planeta para morar... que paradoxo! Bom... não é muito do diferente do que ocorre na vida real, não é mesmo?

Enfim, o jogador assume o comando de Cloud, um mercenário, que envolve-se com um grupo de revolucionários que luta contra os desmandos da Shinra.

Advent Children

Dois após o fim das lutas contra a Shinra, o planeta está em reconstrução e cada personagem do jogo seguiu um caminho diferente. Os próprios funcionários da Shinra sentem-se culpados pelo que fizeram e estão ajudando na reconstrução.

Cloud, o protagonista do jogo e do filme, vaga pelo mundo em busca de respostas e redenção pela morte de uma pessoa que lhe era muito especial – que ocorreu durante o jogo – e que ele não foi capaz de evitar.

Os antagonistas da trama são um grupo de homens com cabelos prateados que estão atrás de algo que chamam de “Mãe” e não medirão conseqüências para atingir seus objetivos.

O lero-lero fica por aí, o resto do filme é uma seqüência de lutas espetaculares que podem tornar-se cansativas para quem não gosta de ação (característica que tornou Matrix Reloaded intragável para muita gente). Mas é perceptível que elas levam o personagem principal a um destino para fechar com chave de ouro o drama psicológico que permeia o enredo.

Para os fãs do jogo fica a emoção de rever todos os personagens que ele controlara anteriormente em ação contra um summon (uma espécie de entidade sagrada que pode ser convocada por magia) em meio a uma cidade (uma das mais espetaculares cenas de ação do filme) e descobrir até onde Cloud chegará em sua descoberta pessoal.

Para os que não jogaram o game, fica a esperança de que a Square produza um filme de Final Fantasy tão bom quanto os jogos que consagraram a série, mas que não seja restrito aos jogadores do game.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Notícias do livro

Oi, pessoal! Tudo bom?

Feliz ano novo para quem ainda eu não falei....rs.

Muita gente está me perguntando a respeito do lançamento do livro cuja previsão de lançamento seria janeiro agora.

Haverá um atraso para o mês de março devido ao cronograma da editora. Quando tiver mais detalhes, eu aviso. Mas em breve já devo conferir os testes de capa. Quando tiver uma imagem, sem dúvida, ela aparecerá primeiro por aqui.

Um grande abraço a todos!


Notícias do livro

Oi, pessoal! Tudo bom?

Feliz ano novo para quem ainda eu não falei....rs.

Constantine



Pôster do filme

Imagem: http://worldsofimagination.com/404px-Constantine_Poster.jpg

“Deus e o Diabo fizeram uma aposta pela sua alma”. É desta forma que Jonh Constantine (Keanu Reeves) resume o mundo surreal em que vive. Onde as duas forças supremas, o Paraíso e o Inferno, buscam por almas instigando o livre-arbítrio humano a cometerem o bem ou o mal e, desta forma, decidirem seu destino e o resultado desse jogo divino.

Baseado nas histórias em quadrinhos Hellblazer, o filme narra a saga de Jonh Constantine, um homem que literalmente foi ao inferno e voltou, quando tentou se suicidar na infância. Ao descobrir como era o inferno, o protagonista percebeu que o lugar era o último que ele desejaria permanecer durante toda a eternidade (o suicídio é um pecado gravíssimo para um católico por isso ele foi parar em meio ao enxofre). Para conquistar sua redenção, o homem tornou-se um ocultista que caça demônios para enviá-los de volta de onde vieram.

Na trama do filme, Constantine conhece Angela Dodson (Rachel Weisz), uma policial (e católica fervorosa) que está investigando o suposto suicídio da irmã gêmea. A dupla logo descobrirá que algo estranho e grandioso está para acontecer em nosso plano de existência que poderá colocar todo o equilíbrio entre o bem e o mal em xeque.

Particularmente, não esperava nada de um filme sobre um personagem que aparecia nas histórias que li apenas como coadjuvante (ele é um dos mentores de Tim Hunter na mini-série Livros da Magia, de Neil Gaiman).

Mas pelo pouco que conheço sobre o personagem, reconheço seu estilo de anti-herói clássico e isso está muito bem retratado no filme. O que é muito curioso, pois o comportamento “que se dane o mundo inteiro” de Contantine cai como uma luva para Keanu Reeves e sua limitação como ator. Convenhamos, Reeves pode ser carismático e fazer caras e bocas, mas está longe, muito longe de ser um bom ator. Então, transportar esse sentimento de “eu não sou um bom ator. E daí? Que se dane” para o personagem garante ao protagonista um charme inesperado.

E isso tudo apesar das inúmeras alterações feitas sobre a obra original. O Constantine das HQs é londrino e loiro e o do filme americano e moreno. E até o nome da obra Hellblazer foi deixado de lado para evitar confusões com o filme Hellraiser.



Keanu em mais um papel que não exige tanta "expressividade"

Imagem: http://blocosete.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/03/constantine.jpg


O filme possui outra curiosidade: está na lista dos filmes bons que possuem um trailer medíocre. A prévia do filme é totalmente sem graça e dá a impressão de que o filme é uma saraivada de efeitos visuais e especiais e nada muito além disso.

Na verdade, os efeitos são usados com parcimônia e muita competência pelos produtores. As cenas no inferno são interessantes mesmo com cenários gerados integralmente por computador (bem diferente de Spawn).

A trama é bem amarrada e seu desfecho possui passagens memoráveis. A cena de Constantine mostrando o “dedo médio” para o senhor do inferno é impagável. Já vale o ingresso. Fora a fotografia muito bem empregada lembra bastante a fumaça do cigarro do ocultista.

Respondendo ao meu “temor”, sim, Constantine se sustenta. O protagonista sozinho garante bons momentos. Ele sabe que Deus existe, mas não acredita nele. Ele tem câncer, mas fuma como um condenado. Paradoxal ao extremo.

Mas um personagem bom não faz uma boa trama sozinho. A película é interessante pelos personagens coadjuvantes também. Destaques mais que merecidos para Tilda Swinton como Gabriel e Peter Stormare como o Satã.

E como todo bom filme com uma “veia religiosa”, conceitos interessantes são explanados, mas não engane-se apesar dos elogios, Constantine não é perfeito. E está distante de ser um dos melhores filmes dentro da temática que aborda. Mas é um bom filme e seus realizadores terão problemas, caso decidam fazer uma seqüência, de produzir um novo capítulo que supere o original.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

12 homens e outro segredo



Cartaz da produção

Imagem: http://os.pior.zip.net/images/12_homens_e_outro_segredo01.jpg


Esta seqüência de Onze Homens e um segredo, de 2001, é uma grande brincadeira. Diversos atores conhecidos deixam de lado um alto cachê e se reúnem com o diretor Steven Soderbergh para se divertir. Ninguém parece se levar a sério e o filme fica com um ar de camaradagem entre todos (até com o espectador). E o que se oferece é uma série de piadas em torno de roubos milionários para saldar a dívida criada no filme de 2001.

É difícil dizer que este longa-metragem é melhor que seu antecessor já que é bem diferente. Enquanto “Onze...” mostrava os preparos para um grande roubo em Las Vegas, sua execução e contratempos, “Doze...” insere novos personagens para abrilhantar ainda mais o elenco de celebridades e injeta mais comédia na trama.

Na seqüência, Terry Benedict (Andy Garcia), a vítima do primeiro filme, encontra a gangue após três anos de procura e quer seu dinheiro de volta. Com juros. Detalhe: o seguro cobrou seu prejuízo. Acontece que ele quer a grana das mãos de Danny Ocean (Geroge Clooney) e sua gangue. As coisas se complicam, pois todos estão falidos já que gastaram a grana obtida no primeiro filme. E precisam cometer novos roubos para saldar a dívida.

E para complicar ainda mais a situação, outro talentoso ladrão (Vincent Cassel) entra na jogada para provar que é melhor que a gangue dos onze atrapalhando seus assaltos. Isso sem mencionar uma bela detetive (Catherine Zeta-Jones), com quem o personagem de Brad Pitt já teve um envolvimento amoroso, que está no encalço do grupo.

Armado o cenário, os roubos não são mostrados em detalhes. São contados em flashbacks e o que está em primeiro lugar são os personagens e as piadas que podem ser criadas em torno deles. O personagem de Matt Damon deseja um lugar mais importante na gangue, brincadeira com sua atual situação nos cinemas como protagonista de filmes, o de George Clooney está mais preocupado com a idade que aparenta do que com a dívida que deve saldar e a certa altura da história a mulher de Ocean (Julia Roberts) é obrigada a se passar por uma famosa atriz de Hollywood com quem possui certa semelhança.

Enfim, tudo parece um grande engodo. Assim como os golpes dos personagens. É um filme para rir mais do que seu antecessor, mas se surpreender menos com as reviravoltas mostradas no roteiro do filme de 2001.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sin City



Você pode odiar Sin City, mas jamais negar que visualmente o filme é extremamente arrojado

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho_6PsMgEcMsvuwm1wqG3vve8FV56go-g7r4IaxHm9HHjqHLMm-z_lhqriKx2wO0OhG8dVjQt-FNrAsujIzZDdnsIfzRgwiMZIo-hkT2BoIfrR-Hox2qF5dCloDTGHURCyhJPEZXfHhkOU/s1600/sin_city.jpg


A humanidade não é a raça mais decente que poderia caminhar sobre a Terra. O ser humano pode ser bom, humilde e altruísta, mas da mesma forma pode ser ruim, egoísta e extremamente ambicioso a ponto de matar um semelhante para atingir seu intento. Há quem diga que somos um câncer para o planeta. Outros que afirmem que naturalmente somos malignos. A crueldade do coração humano está exposta para quem quiser ver, mas retratar na ficção esse lado sombrio de todos nós não é tão simples quanto possa parecer.

Sin City, a história em quadrinhos assinada pelo renomado Frank Miller, é um sucesso entre seus leitores por sair-se tão bem nesse sentido. As histórias narradas em Basin City (Sin é apenas um apelido, mas muito bem dado) são cruas, sujas, frias e têm como protagonistas os piores tipos de nossa sociedade: de policiais absurdamente corruptos a prostitutas assassinas passando por canibais, pedófilos e por aí vai.

Sin City – A Cidade do Pecado, filme do diretor Robert Rodriguez e co-dirigido por Frank Miller (com a participação especial na direção de Quentin Tarantino), é cópia em carbono da sua versão em papel. Os personagens são os mesmos e as tramas também. O que por um lado estraga as surpresas de quem já leu as revistas, por outro garante uma fidelidade nunca antes vista em uma adaptação dos quadrinhos para as telonas.

A reprodução visual do que está no papel para o celulóide também é fantástica. O filme é em preto e branco com algumas cores que pontuam elementos importantes para a narrativa. Em meio a monocromia, existem olhos azuis, carros vermelhos ou assassinos amarelos. Tudo a serviço de uma fotografia noir muito particular que retrata de forma única o que há de pior no ser humano.



A fidelidade para a história em quadrinhos é evidente

Imagem: http://jairoaugusto.zip.net/images/sincity2.jpg


Não há como mostrar esse lado negro da humanidade sem muito sangue, violência e cenas sensuais gratuitas. Esse tempero é a força que divide aqueles que gostam do filme daqueles que ficam horrorizados. Mas não há como sair imune a seus efeitos. Você pode odiar Sin City, mas jamais negar que visualmente o filme é extremamente arrojado.

Por outro lado, se você embarca na violência para extrair o máximo que pode dali não terá poucas chances para “se divertir”. Três narrativas se entrelaçam para desvendar o que ocorre na cidade. Em uma delas Hartigan (Bruce Willis), talvez o último policial honesto de Basin City tenta salvar uma garota de 11 anos das mãos de um pedófilo. Em outra, as prostitutas e mafiosos vivem uma guerra particular pelo controle de um pedaço da cidade. Em outro momento, Marv (Michey Rourke), um ex-presidiário, perde a amada após sua primeira e única noite de amor e fará de tudo para encontrar o responsável e ai de quando encontrá-lo.

Particularmente, meu personagem preferido é o incompreendido Marv, porém considero o assassino interpretado por Elija Wood como o mais sinistro e melhor personagem do longa. Mas a melhor história é a de Hartigan por ser mais densa e possuir reviravoltas fantásticas.

Não espere sorrisos, céu azul (mesmo porque o filme é em preto e branco) ou finais felizes. Sin City oferece o que o ser humano pode fazer de mais terrível. Porém, diante de tantos escândalos políticos e fatalidades acontecendo no país e no mundo, não há como não se indagar se os pecadores da ficção são capazes de competir com os da realidade.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Homem-Aranha 2


O herói e seu grande amor Mary Jane
É impossível acompanhar as aventuras do jovem Peter Parker (Tobey Maguire) no cinema e não se identificar com alguns dos dramas deste carismático personagem. Assim como é impossível sair do cinema sem gostar do filme Homem-Aranha 2.

A película faz jus ao termo "o super-herói mais humano dos quadrinhos" mostrando não um herói mascarado apenas, mas o ser humano por trás desta máscara. Certamente por isso, o diretor Sam Raimi tentou - com sucesso - mostrar mais o rosto do ator Tobey Maguire, que dá vida ao herói, quando está usando o uniforme do Aranha. Até mesmo durante algumas das espetaculares cenas de ação do filme.

O "vilão" Doutor Octopus (Alfred Molina) foi uma decisão acertadíssima para o sucesso da trama. Muito mais interessante que o Duente Verde a la Jaspion do primeiro longa, este inimigo do Aranha tem um objetivo definido e pessoal. Ele não possui nada contra o herói, em particular. Ele só não admite que alguém se coloque em seu caminho.

A comédia está ainda mais presente nessa seqüência, mas o romance e a aventura - tão importantes para o primeiro filme - continuam ali. Ainda bem. Todos esses caminhos que a história percorre são necessários para montar um painel maior que aproxima a vida daqueles personagens de nós. E isso, de fato, acontece. Sim, um herói que se balança a 160 Km/h a alguns metros de altura pode ser algo irreal, mas os dramas humanos presentes ali não são.

A cena da batalha sobre o metrô é clássica

Outra decisão acertada do diretor foi passar o roteiro pela mão de várias pessoas. E, segundo a revista SET, pedir para dois distintos roteiristas criarem histórias paralelas e, um terceiro, mesclá-las. O roteiro ficou mais completo, saboroso e cheio de surpresas. Há cenas e diálogos incríveis que nem o mais desconfiado dos fãs esperaria.
 
Na história, dois anos se passaram após os eventos mostrados no primeiro longa e Peter Parker continua levando uma vida dupla e está tendo problemas com seus poderes por causa do stress. Sua tia está tendo problemas financeiros (assim como ele). Sua eterna paixão, Mary Jane, (Kirsten Dunst) estrela uma peça no teatro e sua carreira como modelo parece estar indo bem. E seu melhor amigo Harry Osborn está ainda com mais sede de vingança atrás do Homem-Aranha. Pra complicar ainda mais a vida do herói, um novo inimigo surge: O Doutor Octopus. Esse vilão deseja criar uma nova fonte de energia para a humanidade. A questão é que essa nova fonte de energia pode representar um grande problema para cidade de Nova York.

Devido ao roteiro e suas reviravoltas não posso ir muito além do que uma sinopse, mas fique atento a cena do trem. Há uma frase pronunciada por um figurante que é de dar aperto no coração de qualquer um. Ela é dita quando o herói está caído dentro do vagão. Assim como na seqüência em que Parker se liberta de sua benção/maldição (hilária) e nas participações incríveis do ator J.K. Simmons que interpreta o diretor do Clarim Diário. Realmente, um filme ótimo. A sensação de assisti-lo é a mesmo que temos quando lemos um bom gibi.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Senhor das Moscas



Uma maneira totalmente peculiar de chegar à adolescência

Imagem: http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/78243_741.jpg


Infância conturbada. Essa seria uma possível manchete de jornais que noticiassem a história que o romance de William Golding nos conta em O Senhor das Moscas, se ela fosse verídica.

Um avião cai em uma ilha e os únicos sobreviventes são um grupo de garotos. Sem adultos, sem regras, sem autoridades, a diversão está garantida. Mas quando a fome e o receio de jamais retornarem para casa os acomete, o grupo se reúne em assembléia que elege, democraticamente, um líder. Tarefas são distribuídas e enquanto uns caçam comida outros erguem barracas. Até uma fogueira é acesa no ponto mais alto da ilha para servir como sinalização para um resgate.

Porém, com o passar do tempo, com o insucesso da fogueira sinalizadora e com a distância da civilização, o ensolarado paraíso torna-se um inferno sombrio assim como a densa noite quando ela cai. Lentamente, os garotos tornam-se mais selvagens e a ilha passa a afetar cada um com maior ou menor intensidade.

As disputas pelo poder não tardam a se iniciar, os gritos se intensificam e mortes começam a acontecer. Não bastasse isso, os jovens suspeitam da existência de um misterioso monstro na ilha que poderia pôr fim a vida deles bem antes de algum navio despontar no horizonte.

Essa obra de William Golding foi publicada em 1954. Mas em nada ela é datada. Golding conseguiu dar a seu texto um ar atemporal utilizando-se de dois recursos simples: a trama já começa na ilha e é carregada de simbolismos. Desta maneira, não sabemos em que ano (ou seriam anos?) que a história se passa ou quanto tempo ela dura. Porém, diálogos inteligentes nos fornecem pistas preciosas. E a personalidade dos personagens e suas atitudes refletem diversos aspectos de nossa sociedade.

Outra característica positiva do texto de Golding é a versatilidade do autor para nos ludibriar. A princípio, fica fácil imaginar um grupo de garotos perdidos em uma ilha deserta. Mas, não muito adiante, isso já não fica tão claro assim. As ações dos personagens tornam-se mais cruéis e volta meia o leitor há de se perguntar: uma criança seria capaz de fazer isso? É fácil esquecer dos garotos de 12 anos que reuniam-se em assembléias para decidir o que fazer depois da metade do livro. A partir daí, a inocência e o senso de responsabilidade para com seus semelhantes dá lugar a cobiça, a selvageria e ao egoísmo.

O Senhor das Moscas é uma obra com muitas virtudes e que deixa margem para múltiplas interpretações (teriam os garotos morrido e ido para o inferno para pagar seus pecados?). Além disso, possui um texto gostoso de ler e personagens fortes e carismáticos. Por essas e outras, o tomo possui um valor que merece ser redescoberto por futuras gerações.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Desventuras em Série



Cuidado, crianças! O Conde Olaf esta à espreita!

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHK485iolWa4p2T99aaNNLOzY_AvXqwTyo6wDirqjSAQEn7h1K1z4HHUJC-4PHjeQBdvoGVlXRddM9C8KmkpIUkIpBzEZEGo8LqNqj8KGX7aTObRpQ3lGmEooyyg9MVz8lxG5q6kXmJWtL/s1600/desventurasemserie0qk.jpg


Um conto de fadas com humor negro. Essa era a idéia que vinha a minha mente enquanto lia Mau Começo, o primeiro volume da coletânea de livros Desventuras em série. Tive a mesma impressão ao assistir a versão cinematográfica da obra. Seja pelas estranhas advertências de Lemony Snicket ou a sucessão de eventos infelizes que acometem os órfãos Baudelaire, sabemos que a vida daquelas três crianças não será nada fácil.

Desventuras em série é uma série de livros escrita por Lemony Snicket (pseudônimo do norte-americano Daniel Handler) com previsão de ser composta por 13 obras. Já foram lançados 11 títulos nos Estados Unidos e o 10º volume chegou ao Brasil junto com o lançamento do filme. Se apenas o primeiro livro fosse transposto para as telas, seria dificílimo o filme ter mais do que 30 minutos de duração. Por isso, os produtores optaram por criar um roteiro baseado nos três primeiros tomos da série: (na seqüência) Mau Começo, A sala dos répteis e O lago das sanguessugas.

Tanto filme quanto livro narram a triste história dos órfãos Violet (Emily Browning), Klaus (Liam Aiken) e Sunny (as gêmeas Kara Hoffman e Shelby Hoffman) Baudelaire que, após perderem os pais em um incêndio, são obrigados a viverem sob a tutela de algum parente até que Violet, a mais velha, atinja a maioridade para receber a enorme fortuna que possuem direito como herança. O problema é que no encalço dos três está um ambicioso tio, o Conde Olaf (Jim Carrey), que só quer saber do dinheiro.

O filme passa a sensação de contar uma história atemporal devido à mescla de elementos contemporâneos e de época que apresenta. Como toda fábula, trata-se de uma história que poderia ter sido contada há muito tempo e poderá ser contada daqui a alguns anos.



Os irmãos Baudelaire Sunny, Violet e Klaus

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib13zCbsa-JmMpYEmUPuV_M74gAFtLlATX34u-HS2tqC_vmVgZEzdVdZ_9wvaiqIprzwUsAwtPUfJrBaGQejm35NDYHpPgXNEfLNavtduTLtHQVcmPjyrAWFyj-NzuKgmJV_GVdYL5P7XO/s1600/155718__lemony_l.jpg

A fotografia confere um ar sombrio ainda mais forte que o do livro com as paisagens sempre nubladas e tons de cinza e azul que tomam conta das cenas. Ela intensifica os comentários de Snicket (Jude Law), mas estes recursos perdem um pouco do efeito com a presença de Jim Carrey no elenco. Como era de se esperar, o talentoso ator acaba por conferir um tom mais cômico do que perverso ao Conde. O que torna comparações entre Olaf e todos aqueles personagens cartunescos dos desenhos animados, que de tão confiantes sempre colocam seus planos por água a baixo, inevitáveis.

O trio de protagonistas faz um trabalho “suficiente”. Não é ruim, mas também está longe de ser maravilhoso, pois os jovens atores não conferem nada de especial aos personagens que interpretam. Talvez, esse fato se acentue devido ao fato dos órfãos Baudelaire serem extremamente introspectivos. Quer dizer, torcemos pelos protagonistas mais pelas situações absurdas em que são colocados do que pelo carisma ou afeição que poderíamos nutrir por eles.

Outro aspecto, é que o filme nos transmite a sensação de que os Baudelaire são os únicos personagens normais da trama. Enquanto que o Conde Olaf, os outros parentes e os personagens secundários são demasiadamente exagerados e cheios de manias estranhas. Parece que o espectador é convidado a trilhar uma jornada, junto aos protagonistas, por um reino de fantasia bastante peculiar.

Por fim, vale a pena pensar sobre uma das mensagens mais originais que um filme para jovens poderia transmitir: o dinheiro pode trazer grandes complicações. Ao mesmo tempo em que simboliza a solução para os problemas dos protagonistas, a fortuna dos Baudelaire também é o grande chamariz para pessoas da estirpe do Conde Olaf. Em um mundo em que o consumo é um sentido para vida e o dinheiro é mais visto como finalidade do que instrumento, esta é uma importante lição.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

1602




A versão medieval dos personagens

Imagem: http://midia.ambrosia.com.br.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2008/10/1602-marvel.jpg


1602 é uma mini-série em 4 edições, publicada pela Panini Comics durante os meses de maio, junho, julho e agosto de 2004, que traz o competentíssimo roteirista Neil Gaiman recriando o Universo Marvel em um cenário medieval. A trama é ilustrada pela mesma dupla responsável por Origem (mini-série que conta os primeiros passos do x-man Wolverine), Andy Kubert (ilustrações) e Richard Isanove (pintura digital), donos de verdadeiros painéis para se pendurar pelas paredes.

A saga mescla elementos da história real com outros da ficção (revelando, ao mesmo tempo, o grande conhecimento e criatividade de Gaiman). A Europa está agitada, tanto pelas disputas entre Inglaterra e Espanha por mais poder quanto por estranhos eventos climáticos que todos acreditam prenunciar o fim do mundo.

Buscando encontrar respostas para os estranhos acontecimentos, o responsável pela Inteligência Britânica, Sir Nicholas Fury, aconselhado pelo Doutor Stephen Strange, mestre das artes medicinas da rainha, contrata um bardo cego, Mattew Murdoch, para encontrar um grande tesouro dos Templários que está em Jerusalém. Strange acredita que este tesouro detém um imensurável poder. Poder este que em mãos erradas poderia trazer mais problemas do que soluções. Logicamente, os fiéis servos da Rainha da Inglaterra não são os únicos atrás do tesouro. O sinistro Conde Otto Von Doom, o governante da Latvéria, também deseja o artefato.

Em meio a todo o conflito, ainda existem os Sanguebruxos, jovens com poderes ou habilidades especiais que sofrem com o preconceito dos seres humanos e, liderados por Carlos Javier, lutam por um lugar ao sol.

A grande diversão de 1602 não é outra se não identificar os personagens do Universo Marvel tradicional num cenário medieval reinventado em que diversos elementos da história oficial são devidamente respeitados.



Os belos painéis de Andy Kubert e Richard Isanove

Imagem: http://www.scifidimensions.com/Jul03/1602_3.jpg


Ponto para Gaiman colocar ao início da trama um resgate histórico da época para contextualizar o leitor. Outro ponto por conseguir retratar sobre um novo prisma tantos e tão distintos personagens. Dá pra acreditar que aqueles personagens viviam ali até que se deram conta de que eram especiais.

O grande porém fica justamente pela caracterização de determinados personagens e pela pífia conclusão da trama. É óbvio que reformulando tantos personagens um ou outro se sairia melhor que o restante. A questão é que alguns personagens tão interessantes do universo convencional como Magneto, um defensor ferrenho de uma posição mais “pró-ativa” contra humanos a favor dos mutantes, tenha tornado-se um fanático religioso na pele de um Grande Inquisitor sem sal.

A trama é extremamente instigante quando se inicia. O mistério em torno do tesouro dos Templários é um elemento precioso na história como nos melhores suspenses literários. O que seria o tesouro? Uma arma? Um objeto sagrado? Uma pessoa? Infelizmente, a resposta para o enigma pode ser uma grande decepção para muitos leitores.

Percebe-se que a história vai bem até a cena da invasão ao castelo de Doom, na Latvéria. Ciclope lutando contra balas de canhão resgata o fervor de uma batalha da época. Depois desta cena, Gaiman tenta amarrar tudo, todos os acontecimentos e personagens com uma única explicação e esta explicação escapa do que a história propõe a princípio.

No fim, somos obrigados a ler explicações estapafúrdias sobre viagens no tempo ou falhas cronais que estão gerando um colapso na realidade de nosso universo. Parece que toda grande saga da Marvel tem que colocar a realidade em xeque. E isso põe toda a mini a perder. É triste ver que Gaiman, um escritor tão experiente, nessa altura da carreira, se encontre em uma situação em que declaradamente não sabia como terminar sua história e coloca um ponto final às pressas e pouco convincente. Descarte a última edição da mini e curta as três primeiras que, de fato, cumprem com sua promessa de oferecer diversão e entretenimento com inteligência.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Jornada nas Estrelas - O Filme



O DVD duplo com a versão do diretor traz extras b

Imagem: http://www.livrariasaraiva.com.br/imagem/imagem.dll?tam=2&pro_id=108222&PIM_Id=105368


É difícil pensar em ficção científica sem falar em Jornada nas Estrelas. A saudosa série de TV chegou ao cinema em 1977 em um filme primoroso. Não apenas pelos inovadores efeitos especiais e visuais, mas também pela trama com um final surpreendente. O primeiro longa-metragem de Jornada cativa e empolga.

Assisti a versão do diretor com imagens e sons restaurados. E trata-se de um espetáculo gostoso de se ver. Cronologicamente, o filme se passa após o fim da série de TV. A tripulação da Enterprise não trabalha junta há anos e a própria nave está fora de atividade, sendo restaurada.

Na trama, a Frota Estelar detecta uma nuvem com nada menos que 12 bilhões de Km (!) de extensão que dirige-se em grande velocidade para a Terra. E que destrói tudo que encontra pelo caminho. O Capitão James T. Kirk (William Shatner) consegue o comando da Enterprise de volta (ele havia sido substituído) e parte para o espaço com sua antiga tripulação para deter o avanço do fenômeno cósmico.

Sem dúvida, uma das coisas mais bacanas desse filme é o clima de reencontros no ar. O reencontro de Kirk com Spock (Leonard Nimoy) ou mesmo Magro (DeForest Kelley) são momentos muito felizes. E esse sentimento é compartilhado pelos personagens e, visivelmente, pelos atores.

Não posso falar muito sobre a trama sem estragar surpresas, mas apesar de alguns excessos, o filme é muito intrigante. Há questões científicas interessantes e até mesmo discussões filosóficas sobre o sentido da vida e a razão de existirmos. Tudo para deter uma ameaça que voa inevitavelmente para a Terra.

Reviravoltas surpreendentes, diálogos inteligentes, teorias científicas de dar nó na cabeça de muita gente e uma direção visionária... é Jornada nas Estrelas em sua forma mais pura mostrando que a série de cinema fará o mesmo que a antiga série de TV costumava fazer: levar a tripulação da Enterprise (e o espectador) até onde nenhum homem jamais esteve.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Superman - O Filme



O cartaz original dizia "Você vai acreditar que um homem pode voar"

Imagem: http://www.supermanhomepage.com/images/chris-reeve-movies/Superman-Movie-Poster.jpg


O Superman é, nos quadrinhos, o maior herói de todos os tempos. O personagem possui uma aura mítica e até o comparam a Jesus Cristo devido a sua fabulosa origem. Ele é o último sobrevivente de Krypton, um planeta bem mais avançado que a Terra, e foi enviado para cá por seu pai, Jor-el (Marlon Brando), momentos antes do planeta explodir. Sob os raios de nosso Sol amarelo, o garoto desenvolveu habilidades especiais como força e velocidade sobre humanas, invulnerabilidade, visão de calor, visão de raios-x e até o poder de voar. Um deus entre mortais que poderia facilmente nos dominar e escravizar. No entanto, quando chegou a Terra, ele foi encontrado por um casal de fazendeiros, os Kent, que o criaram e o rapaz cresceu para se tornar um combatente do crime.

O filme do diretor Richard Donner, de 1978, possui essa aura mítica e é extremamente fiel aos quadrinhos. Donner buscou veracidade para tudo em seu filme. Sim, estamos falando de um homem que veste uma roupa colante com uma capa e que sai voando por aí, um ser a prova de balas e mais forte que uma locomotiva. Mas tudo isso fica em segundo plano. O que é mostrado na tela é um homem especial que representa uma idéia. Uma idéia de nobreza e bondade. O Super é uma força do bem.

Ele pode ser fisicamente perfeito, mas ele foi criado por humanos. E, por trás daquele escudo com um “S” em seu peito, é igual a nós: emocionalmente vulnerável. E mesmo com tantas habilidades ele não pode evitar a morte de um ente querido ou forçar uma pessoa com pretenções malignas a ser decente. Ele pode inspirar os outros, mas não comandar suas escolhas.

Christopher Reeve faz um Homem de Aço inigualável e consegue nos ludibriar como um Clark Kent desajeitado e tímido, porém super carismático. Margot Kidder imprime a Lois Lane todo um charme irresistível. Ela é uma mulher moderna com os pés no chão (isso não é trocadilho), zomba de seu parceiro Kent, mas transforma-se em princesa de conto de fadas quando se encontra com o Super. Com direito a suspiros.



A olhadinha clássica para câmera antes dos créditos finais

Imagem: http://moviesmedia.ign.com/movies/image/superman-reeve-flying.jpg



Gene Hackman é um gênio do mal incontestável na pele de Lex Luthor. Possui humor refinado e é impecável como vilão do filme. Para o público de hoje, o defeito da trama está no personagem e não no ator. Acontece que Hackman interpreta o Luthor que existia no fim da década de 70. Um cara que fica se gabando de seu intelecto e se considera a maior mente criminosa de todos os tempo. Logicamente, perto de sua contraparte atual nos quadrinhos que é presidente dos Estados Unidos, ele mais faz rir que meter medo. Mas o embate músculos (Superman) versus cérebro (Lex), no contexto do filme, é válido.

No mais sábio de seus conselhos, Jor-el alerta seu filho de que a ruína de Krypton foi a vaidade de seus habitantes que não acreditavam que o planeta pudesse explodir. Não importa quem você é ou o que pode fazer, todos temos nossas fraquezas. E Lex Luthor descobre a do Homem de Aço (de uma maneira bem duvidosa, é bom lembrar).

Os efeitos especiais utilizados eram os de ponta na época. E, pode reparar, ainda são melhores do que muitos que vemos por aí. Estamos falando de um filme que queria mostrar que um homem poderia voar em um tempo em que não era qualquer Neo que era capaz de tal façanha e efeitos por computador e “bullet time” não eram “carne de vaca” utilizados até em comerciais. Algumas tomadas demoravam meses para ficar prontas e toda a dificuldade para fazer o espectador crer que um homem pode voar está registrada nos documentários nos extras do DVD da nova versão remasterizada digitalmente atualmente disponível no mercado.

Este filme não possui um final, pois algumas cenas da seqüência já haviam sido rodadas. Infelizmente, após a estréia nos cinemas, o diretor Richard Donner foi demitido de seu cargo devido a divergência com os produtores e substituído por Richard Lester que utilizou algumas destas cenas na montagem de Superman II. Um episódio bem obscuro dos bastidores da produção dos filmes do Homem de Aço.

Enfim, um contos de fadas moderno ou uma história de super-herói? Não importa. Superman é um filme grandioso assim como as mensagens que traz consigo. Não há dúvidas: quando o herói voa como um pássaro rumo ao Sol embalado pela música inesquecível de John Williams é facilmente crível que um homem pode voar.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.