terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Palhaço



Selton Mello é o palhaço em conflito Pangaré

Imagem: http://omelete.uol.com.br/images/galerias/O-Palhaco/O-Palhaco-poster-07Jul2011.jpg


Conferi no último fim de semana o segundo filme dirigido por Selton Mello: O Palhaço. A produção é uma linda homenagem a arte do circo, em especial (obviamente) a arte de fazer rir, ao mesmo tempo que mescla referências a grandes cineastas e traz aquele frescor tipicamente brasileiro ao narrar as aventuras e desventuras de um grupo de artistas circences pelo interior do país durante a década de 70.

A trama central do filme não é original, mas a forma como é narrada certamente sim. Benjamin (Selton Mello) é o palhaço Pangaré. Ele é filho do dono do circo e também palhaço Puro Sangue (Paulo José). Sempre que o circo chega a uma nova cidade, ele precisa decorar o nome do prefeito e da primeira dama, do maluco da cidade e providenciar tinturas de cabelo, medicamentos e até alças de sutiens para os artistas. Enfim, ele vive tão atribulado cuidando do circo do pai que não tem tempo para si. Como muito bem colocado pelo protagonista (até mesmo no trailer): "Eu faço os outros rirem, mas quem vai me fazer rir?"

Benjamin é um palhaço em conflito. Ao que parece, ele nasceu no circo e tornou-se palhaço para seguir os passos do pai, mas nunca teve a oportunidade de escolher tal profissão. Esse dilema o levará a repensar sua real vocação para a arte do circo. Muitas tramas do filme ficam subentendidas, pois não são escancaradamente explicadas. (O que certamente incomodará a platéia acostumada com tiros e explosões.) Os diálogos do próprio protagonista são sempre breves justamente para mostrar seu lado reservado.




Benjamin é um palhaço que não compreende a arte de fazer rir

Imagem: http://omelete.uol.com.br/images/galerias/O-Palhaco/O-Palhaco_01.jpg


Enquanto a relação de Benjamin e seu pai não vai muito bem, os outros membros da família do circo estão em harmonia e rendem os bons momentos de comédia. Metendo-se em encrencas dos mais variados tipos (gostaria de vê-los em mais situações desse tipo no filme, mas isso tiraria o foco do personagem principal), seja um almoço recheado de interesses na casa de um prefeito ou precisando de um auxílio de dois irmãos mecânicos que estão brigados há mais de 15 anos (!), o filme rende boas risadas. Daquelas que um amigo engraçado nos arranca no dia-a-dia. Sem apelação ou baixaria.

As participações especiais de ícones do humor brasileiro são um bônus a parte. Difícil é eleger a melhor. Tem que assistir a cena de Moacir Franco como um delegado contrariado de uma cidadezinha do interior pra entender o que estou dizendo.

Sem estragar as surpresas do filme, a cena que Benjamin sorri de verdade pela primeira vez e outra tomada em que ele percebe que as pessoas precisam de artistas que as façam rir são sublimes e emocionantes. Apesar de introspectivo, o filme tem diálogos muito espertos, inclusive alguns daqueles que nos fazem ficar dias pensando a respeito. O mais marcante, sem dúvida, é o do pai de Pangaré para seu filho: "Meu filho, todo mundo tem que fazer o que sabe fazer. O gato bebe leite. O rato come queijo. Eu sou palhaço. E você?"

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