segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Jornada do Herói



Capa do livro O Herói de Mil Faces

Imagem: http://nalu.blog.br/imagens/livros/heroidemilfacesp.jpg


Sabe quando te perguntam sobre um livro inesquecível que você já leu? Quando isso acontece comigo, sempre vem a minha mente O Herói de Mil Faces, de Joseph Campbell. Não se trata de um romance, mas de um estudo incrível que mudou minha forma de ver, ler e me relacionar com obras de fantasia que sempre gostei de ler e leria mais tarde. Também foi uma forte influência na produção de A Aprendiza de Elementar.

Abaixo eu explico o porquê dessa minha "adoração" toda utilizando alguns trechos que um antigo trabalho que elaborei para minha faculdade de Jornalismo.

O estudioso em mitologias Joseph Campbell acredita que exista um padrão que permeia toda obra fantasiosa de diferentes culturas. Não importa a origem da história, ela apresenta muito mais semelhanças do que diferenças, nos indicando que todas essas jornadas mitológicas nos remetem às mesmas informações. Ele até utiliza uma expressão dos antigos Vedas: "A verdade é uma só; os sábios se referem a ela por vários nomes."

Em seu livro, O Herói de Mil Faces, Campbell apresenta um estudo grandioso a respeito da jornada do herói mitológico. Ele até esquematiza um padrão para essas aventuras que aparecem em diversas religiões e mitologias. Essas semelhanças estão presentes nas histórias de líderes religiosos como Jesus e Buda e heróis mitológicos como Teseu, Prometeu e vários outros.

Segundo Joseph Campbell, a jornada do herói mitológico pode ser resumida da seguinte maneira:

"O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com a vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento).

Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema aprovação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento por parte do pai criador (sintonia com o pai), pela sua própria divinização (apoteose) ou, mais uma vez - se as forças se tiverem mantido hostis a ele -, pelo roubo, por parte do herói, da benção que ele foi buscar (rapto da noiva, roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do ser (iluminação, transfiguração, libertação).

O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoarem o herói, ele retorna sob sua proteção (emissário); se não for esse o caso, ele empreende uma fuga e é perseguido (fuga de transformação, fuga de obstáculos). No limiar de retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror (retorno, ressurreição). A benção que trás consigo restaura o mundo (elixir)".






O autor Joseph Campbell

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Segundo Joseph Campbell, a jornada do herói se revela em três etapas: a partida, a iniciação e o retorno.

A partida

Nesta etapa, o herói recebe o chamado da aventura. Aqui também é mostrado como é o cotidiano do personagem e como se dá a quebra desta rotina. O herói também pode receber ajudas sobrenaturais e amuletos que o auxiliem em sua jornada.

A iniciação

Nesta fase da jornada, o herói é continuamente posto à prova. É reconhecido pelo pai ou se junta a ele. Ele também enfrenta um dragão simbólico, ultrapassa o medo e se torna quase divino. O herói é recompensado com a última dádiva, o objeto de sua busca.

O retorno

Neste estágio final, o herói é auxiliado por forças mágicas e retoma para o mundo onde a aventura se iniciou. Pode ter dificuldades em se readaptar e, muitas vezes é mal compreendido pelas pessoas que reencontra no mundo de onde partiu.

O grande barato de ler este livro e compreender a jornada do herói é justamente encontrar posteriormente estes elementos presentes em diversas histórias de fantasia. Inclusive em A Aprendiza de Elementar.

Mulher-Maravilha



A maior super-heroína dos quadrinhos

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Se o Superman é o maior dos super-heróis, sem dúvida, a Mulher-Maravilha é a maior das super-heróinas. Pode perguntar para sua tia ou para seu pai: a primeira heroína que lhe virá a cabeça é a Princesa Amazona. Tratando-se de quadrinhos, você pode dizer que prefere a Tempestado dos X-Men ou a Mulher-Gato (embora esta seja uma vilã), mas Diana ainda é a melhor. Imortalizada pela ex-Miss EUA Lynda Carter no seriado para TV na década de 70 ou pelos vários desenhos animados em que participou a dona do Laço da Verdade está presente na consciência das pessoas. Mas, quem é ela?

Após os eventos de Crise nas Infinitas Terras (aquele conturbado período da editora DC Comics em que um mesmo personagem possuía três ou mais versões distintas), coube ao roteirista e desenhista George Pérez responder a esta pergunta.

E sua resposta foi clássica. Sim, pois o artista não apenas pintou os mais belos painéis com a personagem como também conferiu a ela uma origem tão bela quanto a mitologia de onde foi inspirada.

Os Deuses Gregos estavam preocupados: os seres humanos estavam perdendo a fé, a fonte de vida desses seres divinos, o que poderia colocar em risco sua existência. Por isso, Ártemis, a deusa da caça, propôs que fosse criada uma nova raça apenas composta por mulheres para servir de exemplo aos humanos.

Ela e as outras deusas gregas do Olimpo coletaram no mundo dos mortos as almas de todas as mulheres mortas na Terra pela fúria e selvageria dos homens através dos tempos. Nasceram assim as Amazonas e a Ilha de Themyscira.

Porém, ao contrário do que Ártemis e cia previram, os homens sentiram inveja e ódio das Amazonas e as difamaram pelo mundo. O famoso Hércules chegou a atacar o lar das guerreiras, destruir a ilha e prender as mulheres.

Após escapar dos maus tratos dos homens de Hércules, as Amazonas ganharam das deusas uma segunda chance na Ilha Paraíso, que não fica na Terra, mas em outra dimensão. E receberam dos deuses uma nova missão: escolher dentre elas uma campeã para enfrentar e frustrar os planos de Ares, o traiçoeiro deus da guerra, que estava por trás das desgraças pelas quais as Amazonas passaram e estava ficando cada vez mais forte com as Grandes Guerras que assolavam a humanidade.



O belíssimo traço de George Pérez em uma arte que lembra um desenho animado

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Um torneio foi organizado e a campeã foi a princesa Diana, a filha de Hipólita. Embora a rainha das Amazonas fosse contra, Diana foi a escolha perfeita. Ela era a mais pura das Amazonas. Ao contrário de suas irmãs, ela não era a reencarnação de uma mulher, mas de um feto. Acontece que Hipólita era a reencarnação de uma mulher que foi morta durante a gravidez por um brutal homem das cavernas. Diana era a filha que a mulher estava gerando quando morreu.

Além disso, Diana é a mais capacitada para a missão, pois foi abençoada pelos deuses gregos com suas habilidades, ou seja, ela é sábia como Atena, veloz como Hermes, uma caçadora como Ártemis, linda e amorosa como Afrodite e assim por diante.

A inocente princesa vai ao mundo dos homens e o impacto que sofre vendo aviões e outras invenções tecnológicas que não conhecia é sublime assim como outras belas histórias da mitologia grega. Algumas sutilezas como quando Diana descobre o que é uma arma de fogo só lendo para compreender.

Os combates entre a Mulher-Maravilha (nome dado a Diana pela imprensa) e os monstros enviados por Ares estão no topo dos melhores da arte seqüencial e o confronto com o próprio deus é daqueles que coloca o herói no limite de suas forças para, no fim, alcançar sua redenção.

Esse encadernado reúne os sete primeiros números da revista Wonder Woman que teve a contagem zerada após a publicação de Crise nas Infinitas Terras. Essa série de revistas reúne o arco de histórias intitulado Deuses e Mortais que, como mencionado acima, narra a origem das Amazonas, sua ligação com os deuses gregos, a origem de Diana e sua primeira aventura no mundo do Patriarcado (dos homens).

O tratamento da Panini é pra lá de caprichado: papel de ótima qualidade, textos introdutórios e galeria de capa. O porém é que tudo isso possui um preço. Nesse caso, um bem salgado: R$ 24,90. Alguns livros custam menos que isso. Embora seja cara, a publicação vale cada centavo investido.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

Segundo livro



Ler é bom. Escrever é melhor ainda.

Imagem: http://pesquisa.bn.pt/bn-mundo/img/livro2.jpg


Nota rápido do dia: semana passada, registrei na Biblioteca Nacioanal os direitos autorais do meu segundo livro! Como bem lembrado por uma colega escritora, esse momento é muito especial. É como encerrar um ciclo. O término de um longo trabalho.

A partir do registro, o livro está pronto para ser apresentado a editoras em potencial para uma eventual publicação. Antes que perguntem, infelizmente, não posso dar detalhes a respeito desta nova obra. Por ora.

Mas, sim, esse novo livro tem a ver com o universo apresentado em A Aprendiza de Elementar, meu romance de estréia com previsão de lançamento em janeiro de 2011, sobre o qual toda a minha atenção reside neste momento.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Leitura X Internet

1º Round



A leitura deve ser encarada como uma atividade prazerosa

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A Revista Cláudia publicou em dezembro de 2003 (edição nº12 ano 42) a matéria "Como criar filhos que amem livros na era da Internet", escrita pela editora do caderno de informática do jornal O Globo, Cora Rónai.

A matéria começa da seguinte maneira:

"Houve uma época em que as histórias em quadrinhos eram olhada com profunda desconfiança por pais e educadores. Era óbvio que aquelas revistinhas atraentes, com suas imagens e sua linguagem coloquial, afastariam as crianças dos livros, pouco ilustrados, que exigiam maior esforço intelectual. Os anos se passaram, as crianças que liam quadrinhos cresceram, tiveram filhos e quase morreram de preocupação com a sua garotada, que, viciada nos seriados dos cinemas, certamente se afastaria dos livros.

Uma geração depois, o ciclo se repetiu. Os meninos das matinês cresceram e passaram por maus momentos ao ver os filhos grudados na televisão - aquela praga, que, sem dúvida, os afastaria dos livros. Hoje, a geração da TV, que cresceu e se multiplicou, anda muito angustiada. As crianças não saem da frente do computador e passam o dia inteiro na internet. Que, naturalmente, vai afastá-las dos livros..."



Com a inclusão da informática no dia-a-dia é importante administrar bem o tempo

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O texto, após apresentar esses fantasmas que seduzem os jovens para longe dos livros, prossegue incentivando os pais a darem exemplos e cultivar o hábito de ler desde cedo nos menores.

Aparecem no texto alguns pais que dão explicações do que fazem para cultivar o interesse pelo leitura nos filhos. O que nota-se é a idéia errada que muitos possuem da leitura.

Leitura não é algo ruim. Muito pelo contrário, é bom. Ler faz pensar e traz uma infinidade de benefícios para um indivíduo que não dá para listar aqui. O que deve mudar é a maneira como as pessoas a encaram. Muitos enxergam a leitura como algo necessário, mas chato, maçante, desinteressante... sendo que não é.

Existem pessoas que só lêem um livro pela primeira vez na idade adulta. Assim, não há hábito que cative um indivíduo qualquer e garanta lugar em sua vida. Como todo costume deve ser ensinado desde cedo.

Há pais hipócritas que querem que o filho leia e não passam o exemplo. Ficam o dia todo na frente da TV.

E mais: as histórias em quadrinhos, o cinema, a TV e a Internet não vieram tirar espaço de nada e de ninguém. Tratam-se de novos canais de comunicação que vieram agregar, acrescentar valores, aumentar o números de opções para se entreter e adquirir conhecimento.

Mas, realmente, esse número maior de meios de tráfego de informações ocupa mais o nosso tempo e as 24 horas do dia-a-dia parecem curtas demais para experimentar tudo o que esse mundo moderno nos oferece.

2º Round



A Internet veio para agregar valores e não tirar espaço

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Aqui entra a aptidão individual de administrar mais eficazmente o tempo que cada um dispõe. Leia por uma hora, entre na net por meia hora, deixe o cinema para o fim de semana. Uma boa agenda garante a melhor utilização do tempo livre. Voltando a matéria de Cora Rónai, ela, em alguns pontos, bate com minhas idéias, em outros diverge, porém, é inegável a agradável forma como o texto é conduzido e como sua leitura é agradável. Mas tenho que falar sobre o final do texto que não tenho palavras para definir.

Ela fala em certo ponto da importância de Harry Potter para o resgate do hábito da leitura (como vários outros autores já o fizeram) e fala sobre o último livro do menino bruxo, que por causa de um erro da editora britânica todos os leitores que não dominam o Inglês não poderiam ler a obra. Então, a escritora termina o texto da seguinte forma:



Existem pessoas que só lêem seu primeiro livro na idade adulta

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"E foi que aconteceu um lindo milagre na internet, daqueles que renovam nossa esperança na humanidade. Crianças e jovens de diversos países criaram, simultânea e espontaneamente, verdadeiros grupos de trabalho para traduzir o livro e fazê-lo chegar aos amigos sem domínio de inglês. Em menos de 15 dias, Harry Potter já estava disponível na rede em uma dúzia de idiomas, entre eles o português.

Essas traduções, feitas às carreiras pelos pequenos leitores, são obviamente rudimentares e não podem ser comparadas, nem de longe, ao meticuloso trabalho dos profissionais. Alguns tradutores e editores ficaram indignados comigo quando manifestei meu entusiamo pela iniciativa. Fiquei com pena desses pobres adultos, tão presos ao sistema que não puderam perceber que estavam diante de uma comovente manifestação de criatividade e solidariedade nascida do amor das crianças pela leitura."

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Ilha do Tesouro

Parte 1: O autor


“Não desejem que eu morra como um cão, sem ter visto
e experimentado tudo que há para conhecer.”

Robert Louis Stevenson (1850 - 1894)

Imagem: http://www.ukoln.ac.uk/services/treasure/images/robert.gif


O espírito desbravador e interessado de Robert Louis Stevenson pelo mundo a sua volta foi transmitido para os seus diversos personagens e sob diferentes aspectos. Nascido em 13 de novembro de 1850, em Edimburgo, capital da Escócia, Robert Louis herdou de sua mãe uma saúde delicada.

Esse contratempo o obrigava a interromper freqüentemente os estudos para passar longos períodos em localidades climáticas inglesas e estrangeiras, o que fazia seguindo instruções médicas.

O que poderia parecer um fardo foi um embrião riquíssimo de idéias para o jovem Louis – que adorava viajar – e que a cada nova empreitada ia para lugares diferentes onde vivia as mais diversas experiências.

Embora possuísse complicados e constantes problemas de saúde, não era isso que afetava sua produção intelectual. Stevenson é um dos escritores com uma das produções mais vastas, tanto em quantidade quanto em diversidade.

Tudo parecia lhe interessar. Gostava de aventuras, biografias, ensaios políticos, etc. E, apesar de escrever histórias com elementos fantásticos e sobrenaturais, seus personagens sempre eram dissecados psicologicamente, sendo eles humanos ou não.

Entre suas obras mais conhecidas estão A Ilha do Tesouro, O Médico e o Monstro, Will do Moinho, Mil e uma noites modernas, Markheim, Olallá, A flecha negra, Janet do pescoço torcido, O homem que era Quinta-feira e Cristina (um romance inacabado que é considerado como sua provável obra-prima).

Parte 1: A obra




A capa da versão da Martin Claret

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“Homem ao mar!” ou “com mil trovões!” são exclamações típicas de piratas. Temidos por navios mercantes e procurados por oficiais da lei, os corsários do mar sempre exerceram um fascínio todo especial por meio da literatura. Uma das obras mais conhecidas, clássicas e, o mais importante, melhores com esta temática é A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson.

Inspirado por suas viagens pelo globo, o autor deu vida a uma aventura pelos mares onde une “uma notável capacidade de análise psicológica dos personagens” a cenas bem construídas de ação e drama.

O romance começa quando o jovem Jim Hawkins encontra um mapa que indica a localização de um tesouro escondido em uma distante ilha. Uma tripulação é organizada para uma viagem atrás do grande prêmio, mas obstáculos como maldições, traições e os castigos que uma ilha deserta e o mar aberto podem oferecer estão a espreita. Não importa o quão valioso seja o tesouro que Hawkins possa encontrar, o grande presente (tanto para o personagem quanto para o leitor) é o sabor da jornada.

É interessante notar em um livro ou filme de aventura o quanto os personagens transformam-se do princípio ao fim da obra. Ao término de A Ilha do Tesouro é muito perceptível as grandes mudanças que a história conferiu a Jim Hawkins e a seus amigos e inimigos. Esse detalhe mostra a relevância da aventura. É engraçado assistir a um filme e não perceber alteração alguma nos personagens. Se a narrativa não altera seus personagens, não acrescenta nada a eles, o que poderia acrescentar a nós? E o mais irônico, para que foi vivida se não mudou nada?

A Ilha do Tesouro está a quilômetros de sofrer deste mal. A narrativa é instigante e atualíssima apesar da época em que foi escrita (o tomo data de 1883). E os “clichês” que aparecem, ou melhor, o que parece clichê para um leitor que lê a obra nos dias de hoje decorre da enorme influência e repercussão da obra.

Esse título não só tornou o nome de Stevenson muito conhecido como também foi teatralizado, transformado em série de TV e filmado em diferentes versões. O primeiro filme da Disney com atores de carne e osso foi uma adaptação das aventuras de Hawkins. O desenho animado Planeta do Tesouro é uma releitura que transporta a saga do século XVII para os confins do universo. Isso sem contar as influências em filmes mais atuais como Piratas do Caribe e até no mundo dos games (quem já jogou algum jogo da série A Ilha dos Macacos sabe do que estou falando).

A atualidade reside em alguns aspectos da narrativa como quando analisa os personagens psicologicamente e na caracterização de alguns personagens como Long John Silver, um dos vilões mais interessantes da literatura, que é o ator principal de um jogo ardiloso em que muda de posição de acordo com as conveniências (o que muitos políticos não deixam de fazer hoje em dia).

Isso sem falar no “heroísmo disfarçado” do protagonista que é, a princípio inocente, luta sempre acreditando no lado bom dos seres humanos, mas que, mais adiante, não pensa duas vezes antes de fazer alianças sinistras com seus inimigos para garantir sua sobrevivência.

A edição da Martin Claret disponível nas livrarias é uma das versões com o melhor custo-benefício do mercado. Acabamento legal por um preço acessível. A ressalva fica por conta do trabalho de revisão que deixou passar alguns erros escabrosos de português e ausência de alguns artigos (decididamente, mera falta de atenção).

Apesar dos personagens vivenciarem situações de perigo a todo momento, a única situação de risco que você, leitor, pode passar quando terminar a obra é a de desejar bancar um pirata bem truculento com uma espada em uma mão e uma garrafa de rum na outra.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ethora



A capa da publicação

Imagem: http://img24.imageshack.us/img24/6576/ethora.jpg


“Ethora é o nome de um continente, de uma terra fantástica, de um grande projeto nascido de um sonho que se concretiza dia após dia”. Esta citação foi retirada da "Ethora's Official Homepage. A Ethora que abordarei neste post é uma publicação especial e recente da Editora Talismã (a mesma de Holy Avenger). Porém, como descobriremos a seguir, esta edição especial é apenas a ponta do iceberg, pois Ethora é muito mais do uma curta história fechada.

A revista Ethora Especial nº 1 conta a história de uma caçadora chamada Hellen que está atrás de uma nova presa: o famoso Raposa, um ladrão que após roubar um objeto de um mago teve uma maldição lançada sobre si que o transforma no animal que lhe dá nome. Porém, a companheira de Raposa, Satine, furtou um objeto que atrai a atenção de outro caçador para complicar ainda mais este jogo de gato e rato.

A roteirista Beth Kodama nos apresenta uma história simples e curta que nos prende do início ao fim. A citada trama serve tanto para nos entreter com personagens desconhecidos do grande público, porém, extremamente cativantes, como para apresentar um pouco sobre o mundo de Ethora. E deixa várias e convenientes pontas soltas para possíveis seqüências. Essa edição ainda traz um interessante Making Of da personagem Hellen.

Os desenhos são de autoria da competentíssima Karina Erica Horita que rabisca lindas artes em estilo mangá. Sua arte varia de acordo com as exigências do roteiro. Há instantes em que seus desenhos adquirem um traço tão definido que lembram um desenho animado e outros que os traços ficam mais indefinidos lembrando um storyboard. Ela dá preferência aos closes que fecham nos rostos dos personagens, mas antes que digam que isso é preguiça de desenhar cenários, ela os desenha com perfeição e detalhes quando preciso. Seu desenho não seria o mesmo sem o suporte do belo trabalho com as retículas (numa explicação bem leiga: aquelas formas de preenchimento para áreas vazias presentes em cenários, sombras, cabelos, etc) de Elton Azuma.



Capa da mini-série A Donzela de Ferro (ainda não li)

Imagem: http://www.quantaacademia.com/blog/Blog-251006-ethora002.jpg

Como mencionado, os desenhos são belos, mas justamente a capa não traz o desenho mais feliz da edição. A ilustração da capa é um pouco poluída visualmente. Eu acho que a ilustração que aparece na última página (e que também serviria como capa) apresenta muito bem os personagens, numa arte melhor solucionada. Fechando a publicação ainda há uma seção de cartas muito engraçada intitulada SPEX – Serviço de Postagem Expressa. Mas espere aí? Essa não é uma edição especial? A primeira? Como poderiam existir pessoas que conheciam a obra para enviar cartas? Uma rápida pesquisa revelou-me a verdade.

Esta é a primeira publicação oficial, em banca, que leva o nome de Ethora. Este que é um lugar que serve como pano de fundo para narrativas fantásticas (assim como a Terra Média é pano de fundo de “O Senhor dos Anéis”). Os leitores que aparecem na seção de cartas conheciam Ethora de outros tempos quando de sua primeira história publicada, em outubro de 2000, no extinto fanzine Kanetsu (que existiu de 1999 a 2002), ou em seu primeiro convite oficial, em 2002, para a Tsunami (maremoto em japonês), fanzine que virou revista pela Brainstore Editora e agora é publicada pela Editora Talismã.

Esta edição mostra o resultado de um longo e grandioso esforço para levar uma história em quadrinhos totalmente nacional (não é patriotismo, mas um reconhecimento de uma vitória num mercado cheio de obstáculos) às prateleiras de uma banca de jornal. Fica registrada aqui a torcida do RR para que os criadores de Ethora voltam em breve com novas histórias para contar.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Donnie Darko



Cena do filme Donnie Darko

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Donnie Darko (Jake Gyllenhaal) é o nome de um adolescente que todos consideram um desajustado. Ele tira notas baixas na escola, tem um comportamento anti-social e, ainda por cima, tem alucinações com um coelho monstruoso chamado Frank (James Duval) que o instiga a cometer atos de vandalismo e lhe anuncia que o mundo, em breve, irá acabar.

Donnie Darko é um filme extenso. Não pela sua duração, mas pelos temas que aborda. De divertidos diálogos sobre a sexualidade presente em desenhos animados como os Smurfs, passando por teorias do professor Stephen Hawking até discursos sobre a existência de Deus, a obra flerta com discussões sobre os desígnios do universo, traz professores que acham que devem apresentar aos seus alunos um mundo cor-de-rosa e escritores mais preocupados em venderem livros do que idéias. Fala de viagens no tempo e predestinação com fôlego ainda para contar uma inusitada história de amor.

O responsável pela obra é o novato diretor e roteirista do filme, Richard Kelly. A película custou apenas 4 milhões de dólares (pouco para os padrões de Hollywood). Segundo o site Omelete, Kelly “andava para cima e para baixo com um roteiro de ficção científica embaixo do braço”, mas nenhum estúdio queria bancar a história de um garoto esquizofrênico que conversava com um amigo imaginário que era um coelho de 1,80m. Quem bancou a fita foi a produtora Flower Film, de Drew Barrymore (que, no filme, faz a professora de literatura).

Há uma frase proferida na trilogia de O Senhor dos Anéis que diz “Nós devemos fazer o que pudermos com o tempo que nos é dado”. Acontece que não sabemos a duração deste tempo, pois não conhecemos qual o instante de nossa morte. Se as coisas são, realmente, pré-estabelecidas talvez nem devêssemos estar aqui. Nos faz pensar: por um detalhe em seu passado, talvez você nem estivesse aqui lendo este post. Já pensou nisso? Por causa de uma pequena mudança no rumo dos eventos de nossas vidas, você e eu poderíamos ser completamente diferentes. Com outros nomes e aparências. E vivendo em outros lugares. Ou até mesmo em outros tempos.



Cena do filme Donnie Darko

Imagem: http://magiaeimagem.files.wordpress.com/2009/07/donnie-darko.jpg

O final surpreendente é pra refletir e adquirir não apenas uma, mas várias respostas. Por isso existem tantas teorias sobre a obra. (Não leia a continuação deste parágrafo se você não assistiu ao filme ou não quiser estragar algumas de suas surpresas.)

Para alguns, o filme é uma alegoria a história de Cristo e Donnie é uma espécie de Messias que faz um sacrifício final para salvar o mundo. Neste contexto, seus embates com professores e o guru são o equivalente aos de Cristo contra os falsos profetas. (Detalhe: as iniciais de Jim Cunningham, o personagem de Patrick Swayze, são as mesmas de Jesus Cristo e talvez isso não seja mera coincidência). Para outros, tudo não passou de um sonho que serviu como presságio. Donnie acordou do sonho (na cena em que está rindo ao final do filme), mas não acredita nisso, então volta a dormir e acontece o acidente. E ainda há a teoria que o diretor explica nos extras do DVD de que a história do filme se passa numa dimensão paralela que não deveria existir. Houve uma ruptura no espaço tempo e a história do filme se desenrolou, história esta que não era para acontecer. Donnie deveria ter morrido no acidente e nunca ter conhecido sua namorada ou tido as tais alucinações. Por isso, quando percebe o erro, ele volta no tempo para concertar as coisas. Por fim, há outra idéia de que ele voltou no tempo realmente com o intuito de salvar sua amada, pois se ela não se envolvesse com ele, ela não teria morrido. E ele fez isso mesmo sabendo que ambos não chegariam nem mesmo a se conhecerem e ela nunca se lembraria dele. Mas estas são apenas especulações. Existem outras e você pode cria uma após assistir ao filme que, de fato, permite tanta discussão.

É difícil resenhar um filme desses. Você deve assisti-lo. É tão intrigante quanto as discussões que levanta. Mais intrigante por sabermos que por mais que conversemos nunca chegaremos a uma resposta para essas questões. E ainda mais intrigante ao imaginar que nós poderíamos nem mesmo estar aqui tendo esta conversa.

Donnie Darko foi relançado agora em julho nos EUA como uma versão do diretor com novos efeitos especiais e mais de 20 minutos de cenas inéditas excluídas da versão original.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.