quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Ilha do Tesouro

Parte 1: O autor


“Não desejem que eu morra como um cão, sem ter visto
e experimentado tudo que há para conhecer.”

Robert Louis Stevenson (1850 - 1894)

Imagem: http://www.ukoln.ac.uk/services/treasure/images/robert.gif


O espírito desbravador e interessado de Robert Louis Stevenson pelo mundo a sua volta foi transmitido para os seus diversos personagens e sob diferentes aspectos. Nascido em 13 de novembro de 1850, em Edimburgo, capital da Escócia, Robert Louis herdou de sua mãe uma saúde delicada.

Esse contratempo o obrigava a interromper freqüentemente os estudos para passar longos períodos em localidades climáticas inglesas e estrangeiras, o que fazia seguindo instruções médicas.

O que poderia parecer um fardo foi um embrião riquíssimo de idéias para o jovem Louis – que adorava viajar – e que a cada nova empreitada ia para lugares diferentes onde vivia as mais diversas experiências.

Embora possuísse complicados e constantes problemas de saúde, não era isso que afetava sua produção intelectual. Stevenson é um dos escritores com uma das produções mais vastas, tanto em quantidade quanto em diversidade.

Tudo parecia lhe interessar. Gostava de aventuras, biografias, ensaios políticos, etc. E, apesar de escrever histórias com elementos fantásticos e sobrenaturais, seus personagens sempre eram dissecados psicologicamente, sendo eles humanos ou não.

Entre suas obras mais conhecidas estão A Ilha do Tesouro, O Médico e o Monstro, Will do Moinho, Mil e uma noites modernas, Markheim, Olallá, A flecha negra, Janet do pescoço torcido, O homem que era Quinta-feira e Cristina (um romance inacabado que é considerado como sua provável obra-prima).

Parte 1: A obra




A capa da versão da Martin Claret

Imagem: http://fabiompalves.files.wordpress.com/2010/02/a-ilha-do-tesouro-robert-louis-stevenson.jpg


“Homem ao mar!” ou “com mil trovões!” são exclamações típicas de piratas. Temidos por navios mercantes e procurados por oficiais da lei, os corsários do mar sempre exerceram um fascínio todo especial por meio da literatura. Uma das obras mais conhecidas, clássicas e, o mais importante, melhores com esta temática é A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson.

Inspirado por suas viagens pelo globo, o autor deu vida a uma aventura pelos mares onde une “uma notável capacidade de análise psicológica dos personagens” a cenas bem construídas de ação e drama.

O romance começa quando o jovem Jim Hawkins encontra um mapa que indica a localização de um tesouro escondido em uma distante ilha. Uma tripulação é organizada para uma viagem atrás do grande prêmio, mas obstáculos como maldições, traições e os castigos que uma ilha deserta e o mar aberto podem oferecer estão a espreita. Não importa o quão valioso seja o tesouro que Hawkins possa encontrar, o grande presente (tanto para o personagem quanto para o leitor) é o sabor da jornada.

É interessante notar em um livro ou filme de aventura o quanto os personagens transformam-se do princípio ao fim da obra. Ao término de A Ilha do Tesouro é muito perceptível as grandes mudanças que a história conferiu a Jim Hawkins e a seus amigos e inimigos. Esse detalhe mostra a relevância da aventura. É engraçado assistir a um filme e não perceber alteração alguma nos personagens. Se a narrativa não altera seus personagens, não acrescenta nada a eles, o que poderia acrescentar a nós? E o mais irônico, para que foi vivida se não mudou nada?

A Ilha do Tesouro está a quilômetros de sofrer deste mal. A narrativa é instigante e atualíssima apesar da época em que foi escrita (o tomo data de 1883). E os “clichês” que aparecem, ou melhor, o que parece clichê para um leitor que lê a obra nos dias de hoje decorre da enorme influência e repercussão da obra.

Esse título não só tornou o nome de Stevenson muito conhecido como também foi teatralizado, transformado em série de TV e filmado em diferentes versões. O primeiro filme da Disney com atores de carne e osso foi uma adaptação das aventuras de Hawkins. O desenho animado Planeta do Tesouro é uma releitura que transporta a saga do século XVII para os confins do universo. Isso sem contar as influências em filmes mais atuais como Piratas do Caribe e até no mundo dos games (quem já jogou algum jogo da série A Ilha dos Macacos sabe do que estou falando).

A atualidade reside em alguns aspectos da narrativa como quando analisa os personagens psicologicamente e na caracterização de alguns personagens como Long John Silver, um dos vilões mais interessantes da literatura, que é o ator principal de um jogo ardiloso em que muda de posição de acordo com as conveniências (o que muitos políticos não deixam de fazer hoje em dia).

Isso sem falar no “heroísmo disfarçado” do protagonista que é, a princípio inocente, luta sempre acreditando no lado bom dos seres humanos, mas que, mais adiante, não pensa duas vezes antes de fazer alianças sinistras com seus inimigos para garantir sua sobrevivência.

A edição da Martin Claret disponível nas livrarias é uma das versões com o melhor custo-benefício do mercado. Acabamento legal por um preço acessível. A ressalva fica por conta do trabalho de revisão que deixou passar alguns erros escabrosos de português e ausência de alguns artigos (decididamente, mera falta de atenção).

Apesar dos personagens vivenciarem situações de perigo a todo momento, a única situação de risco que você, leitor, pode passar quando terminar a obra é a de desejar bancar um pirata bem truculento com uma espada em uma mão e uma garrafa de rum na outra.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

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