sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A brincadeira de resenhar

Boa noite a todos!

Hoje posto aqui um artigo que escrevi sobre a qualidade das resenhas publicadas na mídia brasileira para a disciplina Crítica da Mídia que tive no meu curso de Jornalismo (concluído em 2005).



Há resenhistas tão medíocres que por falta de tato
resumem uma obra e até revelam seu final


Imagem: http://www.phillyburbs.com/educationguide/images/writer.jpg


"Meu sonho sempre foi trabalhar com este diretor" ou "este foi o trabalho mais gratificante da minha carreira" são tipos de frases que não possuem mais autores. De tão utilizadas levam a lugares comuns e são vazias de real conteúdo numa matéria ou entrevista que aborda determinado lançamento de filme ou livro. Elas são encontradas facilmente em extras de DVDs, matérias da mídia brasileira em geral sobre estrelas do cinema ou que abordem um produto cultural específico (filmes, peças teatrais, livros). Esse conteúdo desinformativo torna-se um problema ainda maior quando surge numa resenha.

Diferentes estudiosos apresentam diferentes definições do que venha a ser uma resenha. Uma das melhores conceituações que já li foi escrita por Maria Margarida de Andrade em seu livro Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação. Ela defende a resenha como um texto que "exige conhecimento do assunto, para estabelecer comparação com outras obras da mesma área e maturidade intelectual para fazer avaliação e emitir juízo de valor".

Um autor de uma resenha deve ter um conhecimento suficiente do assunto que abordará para se despir de preconceitos, contextualizar a obra que pretende resenhar e sugerir ou não a atenção do leitor para o objeto de análise em questão. Logicamente, toda resenha vem embutida com a opinião do escritor. Se este não gostou de determinada película ele deve buscar argumentos concretos para realizar uma crítica negativa e, mesmo que não admire o diretor medíocre ou o ator protagonista canastrão, ele não deve deixar de lado o que o filme tem de bom a oferecer. Caso contrário o próprio resenhista se torna medíocre, fazendo uma crítica pobre com argumentos sem fundamentos. Seria o mesmo que emitir uma opinião ridícula como escrever que não gosta daquela atriz porque ela pinta o cabelo de azul.

Um bom escritor contextualiza a obra resenhada

Ilustração: http://www.paulawirth.com/portfolio/writer.gif


Despir-se de preconceitos talvez seja a tarefa mais difícil de um autor desse tipo de texto, mas uma boa resenha exige esse tipo de aptidão. Sabemos que preconceitos são conceitos enraizados numa pessoa através da cultura ou dos meios de comunicação a que esta tenha acesso, mas isso não é desculpa para um jornalista que não suporta cinema europeu só "descer a lenha" numa película deste gênero.

E mais: um bom resenhista deve oferecer algo além. A resenha não possui uma receita pronta para sua produção. Não trata-se apenas de dizer quem é o autor do livro, o que ele já fez na vida e apresentar uma sinopse de seu novo romance. Há escritores tão medíocres na mídia brasileira que por falta de tato resumem uma obra e até revelam seu final. Aqui aparece a vergonhosa falta de pesquisa e repertório sobre o tema debatido.

Resenha é contexto. A obra analisada deve ser contextualizada, apresentada para um leitor que esteja tomando contato pela primeira vez com este autor ou aquele diretor. A boa resenha não só compara autores com outros da mesma área e gênero, não apenas compara o novo feito de um diretor com seus trabalhos anteriores, mas também capacita o leitor para realizar seu próprio julgamento de valor e permitir a este que se decida se o novo produto cultural em exibição nos cinemas, no teatro ou livraria mais próximos de sua casa mereça sua atenção e valha o tempo que perderá ou ganhará com este link para um novo conhecimento a ser agregado.

A resenha é um jogo divertido entre pessoas interessadas em conhecer novos pontos de vistas. Ler um texto de um bom resenhista é prazerosamente gratificante. Nessa brincadeira, há os que levam a produção de uma resenha com seriedade e outros que não são tão íntegros neste aspecto. Aí se encerra a diferença gritante entre profissionais e amadores.

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