quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Kill Bill: Volume 1



Estragar o casamento de uma assassina profissional não é uma boa idéia (Eu adoro essa imagem)

Imagem: http://www.omelete.com.br/imagens/cinema/news/kill_bill/killbill_vol2_thebride.jpg


É estranha a expectativa que cria-se quando vamos assistir a um filme onde a principal atração é o seu diretor e não a narrativa em si. Todo trailer e outdoor estampam “o 4º filme de Quentin Tarantino”. E quem não conhece seu trabalho se pergunta: Mas o que esse cara tem demais?

Certamente, eu não sou a pessoa mais indicada para dizer. Por isso indico uns textos abaixo para quem quiser se informar, mas assistindo a Kill Bill, seu mais novo filme, já temos uma pista grande de quem é a figura.

Kill Bill conta a história de Mamba Negra (Uma Thurman), uma assassina profissional ex-integrante do grupo das Víboras Mortais – uma equipe chefiada pelo mencionado Bill do título – , que é traída pelo chefe e pelas colegas de trabalho bem no dia em que iria se casar. Todos os convidados são mortos e a Noiva leva um tiro na cabeça. Porém, ela não morre. Ela entra num coma de 4 anos e acorda irada com o único propósito de matar Bill. Ah, detalhe: no dia do casamento, quando ela levou um tiro na cabeça ela estava grávida. Quer dizer, ela não quer vingança apenas pela traição, mas também pela morte do noivo e da filha.

Inexplicavelmente, toda vez que seu nome verdadeiro é pronunciado um som de censura é posto no ar (sabe aquele “piii”?) e na legenda no lugar do nome aparecem dois traços: --. Não faço idéia do porquê disso. Mas já li que o nome verdadeiro dela é revelado na segunda parte. Para quem não sabe, o filme foi dividido em duas partes devido ao seu tamanho. Por isso é difícil falar da trama quando apenas visto pela metade.

Pela sinopse já dá para perceber que não há uma grande história. O filme, na verdade, é sustentado pelos cativantes personagens e a forma como a história é contada. Ou montada. A película é dividida em capítulos que não seguem uma linha temporal contínua (complicado?) (rs), ou seja, as informações são reveladas em pequenas doses fora de ordem. Em um momento, estamos no presente, de repente, voltamos ao coma da protagonista, depois vamos para o futuro e, em seguida, o passado de uma das vilãs é revelado. Enfim, você entende tudo se prestar atenção porque este não é um filme de ação em que não precisamos pensar.

Tenho que dar o braço a torcer para o diretor que monta um espetáculo muito agradável para se assistir. Os cenários são muito bonitos, as músicas são legais e são colocadas nos momentos precisos, os closes dos rostos e olhos dos personagens possuem uma importância que Tarantino sabe utilizar. Outra questão muito importante: o filme possui inúmeros cenas de luta e, por incrível que pareça, não cansamos delas. Elas são super bem coreografadas e são mais críveis do que a luta entre Neo e os Agentes Smiths em Matrix Reloaded já que não há recursos em computação gráfica. Ou seja, todos os 88 Yakuzas que a Noiva enfrenta numa cena de quase 30 minutos são atores de carne e osso.



Diretor com cara de maluco

Imagem: http://www.omelete.com.br/imagens/cinema/artigos/quentin_tarantino/tarantino.jpg

Kill Bill é um filme para entreter e pronto. Seu diretor é um declarado fã da cultura pop em geral e muita coisa entra em seu filme como referência. Sejam as máscaras dos Yakuzas que lembram o Besouro Verde, as lutas com espadas que remetem aos mangás de samurais e ao anime, o desenho animado japonês. Aliás, a seqüência em que é narrada a história de O-Ren Ishii, também conhecida como Boca de Algodão (Lucy Liu) é toda produzida em desenho animado (com muita qualidade e tão violento quanto o resto do filme).

Não posso deixar de mencionar o mote do filme: a vingança. É uma referência clara áqueles antigos filmes de kung fu. Coisas do tipo, “mataram meu pai, eu o vingarei” ou “a morte do meu irmão não ficará impune”. A primeira imagem do filme é os dizeres “a vingança é um prato que se come frio”. Por favor, existe ditado mais utilizado para se falar de vingança como este? Isso deixa claro também como o desejo de vingança que motiva a protagonista é um pretexto já tão gasto em filmes (clichê mesmo!) que já virou carne de vaca. Trata-se de uma premissa simples para mergulhamos na vida de personagens interessantes e, em muitos momentos, parece mais como uma desculpa para vermos socos, chutes e muito sangue na tela. E haja sangue! O filme é violentíssimo. A censura é 18 anos.

Outra característica legal é que, com exceção de Bill, praticamente todos os personagens principais são mulheres. É preciso dizer que se a Mamba Negra fosse um homem, muito da dramaticidade do filme se perderia. Inclusive pela questão de ela ter sido pega de surpresa em seu casamento grávida. São alguns elementos que não fariam sentido para um homem vingativo. É engraçado pensarmos às vezes por que Harry Potter não é uma garota? Por que nas histórias clássicas o cavaleiro salva a princesa e não o contrário? Ou uma amazona salva um príncipe? Sendo que uma mulher pode dar conta de situações tão complicadas quanto um homem.

Além do que, numa ficção, como se trata de uma história inventada que é narrada num livro ou filme, há a necessidade de uma demonstração de sensibilidade grande para comover o leitor ou espectador. Se as mulheres são mais sensíveis e demonstram suas sensações com mais vigor e força, por que relegá-las aos papéis as personagens secundárias?

Outra característica do filme é que ele possui momentos exagerados (as famosas barras forçadas) que nos lembram de que aquilo é apenas um filme. Aliás, parece que o diretor gosta de nos lembrar disso.

Para atiçar a curiosidade e fazer a gente assistir a segunda parte muita coisa é mantida em segredo, inclusive o motivo que fez Bill e as Víboras Mortais acabarem com o casamento da Mamba Negra. Kill Bill Vol. 1 termina com uma surpreendente revelação que nos faz até pensar se a Noiva levará sua vingança até as últimas conseqüências.

Esse é o maior defeito do filme. Ele foi “quebrado” em dois. Ele termina no meio. E será duro esperar pela seqüência que está prevista para chegar ao Brasil apenas em Outubro.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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