Eu já disse que gosto de histórias em quadrinhos. Por isso, outra influência para produção do livro são os roteiros do Marcelo Cassaro, um roteirista brasileiro autor de Holy Avenger e Dungeon Crawlers.
Capa da primeira edição da mini-série
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De volta ao mundo místico de Arton, Marcelo Cassaro nos apresenta uma nova aventura, com novos personagens, por meio de uma nova editora, na mini-série em 4 edições Dungeon Crawlers, da Mythos Editora.
O leitor que nunca visitou Arton – local onde Sandro, Lisandra e companhia viveram suas aventuras durantes as 40 edições de Holy Avenger, da Editora Talismã – não terá problemas quando ler Dungeon Crawlers, já que o início da história traz uma (re)apresentação deste mundo. Não trata-se de uma seqüência. É uma nova história que se passa no mesmo local. Arton é um lugar criado por 20 deuses que representam os aspectos mais fundamentais da existência. Dentro deste grupo de deuses há várias rivalidades. A história desta aventura centra-se na dualidade representada pelas deusas Allihanna, a mãe da natureza, e Tanna-Toh, mãe do conhecimento. Enquanto os seguidores da deusa da natureza vivem de forma selvagem e combatem os inimigos do equilíbrio natural, os fiéis a deusa da palavra não podem deixar um conhecimento morrer e tem a obrigação de levar a palavra escrita aos povos bárbaros, mesmo que valendo-se da força.
Neste contexto, Aurora, uma clériga de Tanna-Toh, parte numa jornada até a esquecida cidade élfica de Lenórienn, que foi dizimada por hobglobins, em busca de suas relíquias culturais, acompanhada por sua amiga Brigandine. Diante dos perigos, Aurora é obrigada a aceitar a companhia e proteção de um elfo ranger, um fiel de Allihanna, Fren, que fez uma promessa de acabar com os hobgoblins que cruzem seu caminho. Desta maneira, uma improvável aliança é formada.
Cassaro sabe muito bem trabalhar essa dualidade, colocando em ação uma humana que pensa e faz planos demais antes de atacar e um elfo que não pensa antes de sair na porrada. O que rende momentos críticos de embate entre os dois e cenas muito engraçadas. Destaco a passagem em que Fren irrita Aurora fazendo-lhe perguntas íntimas. Acontece que um clérigo de Tanna-Toh faz um juramento que a impede de negar qualquer tipo de conhecimento ou mentir. Portanto, a pessoa sob este juramento deve dizer sempre a verdade, mesmo que não queira.
Devido ao curto espaço que possui em relação a Holy Avenger (Dungeon tem apenas 4 edições enquanto que Holy possui 40, sem mencionar os especiais e os epílogos), Cassaro desenvolve bem os protagonistas, mas sem aprofundá-los. Nunca sabemos direito porque Brigandine faz tanta questão de proteger Aurora (só porque elas são amigas?) já que tem tanto medo de lutar ou porque Fren decide ir a um lugar que traz tantas lembranças desagradáveis para um elfo.
Outra capa da mini (não tão caprichada quanto a primeira)
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A arte é de Daniel HDR, que possui um traço mais puxado para os comics americanos do que para os mangás, distanciando-se da arte de Erica Awano, ilustradora de Holy Avenger, que faz algumas participações especiais desenhando passagens de flashbacks e momentos românticos. Embora a arte de Erica seja inferior em detalhes a de HDR, o clima que ela cria com seus desenhos é bem superior. Como Dungeon é colorida (diferente de Holy), sua arte só tem a ganhar. E é bom rever alguns velhos personagens conhecidos dos visitantes já apresentados a Arton.
A narrativa flui bem e conseguimos ler tudo de uma vez. Acho que o defeito seja justamente o título da obra. Cassaro parece possuir a mania de dar nomes em inglês aos seus trabalhos. Isso sem falar que Dungeon Crawlers é de uma pronúncia terrível. Por mais que você saiba falar inglês, isso não bastará se o tio da banca de jornal não te compreender. O jeito é arregaçar as mangás e encontrar o título sozinho.
A edição que eu li foi a encadernada que reúne as 4 edições originais. Embora, apresente o material integral, esta edição não traz todas as capas. Elas são reproduzidas em miniatura na quarta capa e, o mais triste é que, de quatro capas, a piorzinha foi escolhida para ilustrar esta edição especial.
Dungeon Crawlers vale a leitura tanto para quem conhece como para quem nunca foi a Arton. E, apostando numa fórmula que já deu certo: a narrativa une elementos de RPG e quadrinhos, mais especificamente o mangá. E é muito bom acompanhar a evolução de um promissor roteirista brasileiro que é o Marcelo Cassaro.
A história termina com um grande gancho para uma seqüência já confirmada por Cassaro em entrevista concedida a revista Wizard Brasil # 10. A nova aventura deve ser publicada também pela Mythos.
Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.
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