terça-feira, 19 de outubro de 2010

Linguagem entrecortada




Linguagem entrecortada ou narração não linear

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Após discorrer sobre a Criatividade, A Organização das Idéias e O Repertório, dou sequência a minha série de posts sobre o ato de escrever. Não trata-se de aula ou manual. Nada disso, apenas algumas impressões pessoais desta pessoa que vos escreve. Desta vez, o tema é a linguagem entrecortada!

Diferentemente dos posts anteriores que se propunham a dar dicas sobre a produção de qualquer tipo de texto, este aborda uma técnica especial para produção de textos narrativos. Agora o foco é a narração de histórias e de como tornar esta narração mais envolvente.

Basicamente, toda narração tem um começo, meio e fim. Certo? Cronologicamente, em um filme ou livro, você pode acompanhar desde o nascimento de um personagem, seu crescimento e sua jornada pessoal de descobrimentos e ações. No entato, é possível subverter esta regra. E se o meio visse antes do começo? Ou se a narrativa acontecesse até mesmo pelo seu final?

Isso pode ser mais complexo do que parece. Para certo tipo de público essa técnica pode até ser confusa no início, mas sem dúvida ela é muito envolvente. Principalmente, pois é necessário esquecer momentos muito específicos do passado, presente e futuro de sua história ou personagem para tornar relevante a utilização deste recurso.

Vamos aos exemplos? Vou utilizar três diretores para demonstrar do que eu estou falando: Quentin Tarantino, José Padilha e J.J Abrams.



Quentin Tarantino, diretor de Kill Bill

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Quentin é um diretor americano de filmes mais alternativos. Tais como Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Jackie Brown, Kill Bill e Bastardos Inglórios. Todos utilizam esse recurso da linguagem entrecortada. A história começa em um ponto chave e depois voltamos ao passado para compreender os eventos que levaram a ação até aquele momento em que fomos apresentados no início do filme.

Kill Bill (confira as minhas resenhas dos volumes 1 e 2 dessa obra a partir de amanhã por aqui) é até mesmo dividido em capítulos. O que até mesmo facilita a compreensão desse recurso de uma narrativa não linear. Ela não é cronológica. Portanto, o capítulo 1 não acontece antes do 2, mas depois de outro e assim por diante.

O mais interessante é assistir a obra toda (os 2 volumes) até o final e perceber que se o diretor tivesse narrado a história da Noiva cronologicamente, ela não teria a menor graça. Tarantino foi um mestre em contar uma história desta forma. Pois o que nos prende é justamente a curiosidade em descobrir o que motiva todos aqueles personagens. Isso é algo corriqueiro em seus filmes.




José Padilha, diretor de Tropa de Elite 2 Imagem: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/files/2009/12/jose-padilha-paulo-giandaliafolha-imagem.jpg


José Padilha é o diretor dos dois Tropa de Elite. Ambos muito bons por serem inteligentes e muito provocativos (você sai do cinema após assistir Tropa de Elite 2 como se tivesse levado um soco na boca do estômago!). As duas películas com narração de Nascimento (Wagner Moura) começam por um momento importante da história. Algum momento mais impactante ou com mais ação. Então, após os créditos iniciais, a narrativa retrocede até dado momento em que somos apresentados aos personagens que participaram daquela cena inicial e nos são apresentados os eventos que culminarão naquela cena inicial.

A princípio, nossa comprensão é limitada e ao longo do filme ela é expandida para o completo entendimento do que estava acontecendo, afinal, quando o filme se iniciou. Eu gosto deste estilo.




J. J. Abrams, a mente por trás de Lost

Imagem: http://scifipulse.net/wp-content/uploads/2008/07/jj-abrams.jpg


Pra terminar com meus exemplos, temos J.J. Abrams. Ele é diretor do último Jornada nas Estrelas, Missão Impossível III e a mente por trás de Lost.

Em Star Trek, ele não se vale tanto deste recursos de narração não linear. Mas seleciona muito bem eventos da infância e adolescência do futuro Capitão Kirk e Spok para nos permitir compreender as motivações por trás das atitudes destes personagens quando adultos e a ação ganhar vigor ao longo do filme. Pra mim, esse filme é incrível. E, apesar de se tratar uma ficção científica, traz muitos elementos pertinentes a todos nós. Por exemplo, a essência da liderança.

Mas o melhor exemplo de Abrams é Lost. para quem nunca assistiu a série e deseja compreender melhor o que eu estou falando fica a lição de casa. Assista às 6 temporadas. Lost é praticamente um tratado (não encontro palavra melhor) ou uma experiência em linguagem entrecortada.

Os eventos começam no presente. Somos apresentados ás vítimas de um acidente aéreo que caírem em uma misteriosa ilha do Pacífico. Então, em cada episódio, o foco cai sobre determinado personagem que possui certas atitudes que vamos compreendendo através de flashbacks que revelam seus segredos e passado.

Mas o melhor ocorre em uma das temporadas seguintes. Além dos flashbacks, os criadores de Lost passam a narrar também flashfowards!!! Ou seja, somos apresentados a eventos do futuro! Assim, além dos eventos principais que se desenrolam no presente, entendemos as ações dos personagens através da apresentação de eventos de seu passado e ficamos sabendo aos poucos de seu futuro (inclusive se ele irá morrer ou não!).

Nesse sentido, Lost é uma experiência única e inovadora porque subverte até mesmo a narração não linear. Lost nos apresenta um mosaico. Passado, presente e futuro. A princípio peças desconexas que ao longo da narrativa se encaixam com perfeição. Trabalho de mestre.

É isso aí, galera. Para quem curte escrever ou dicas sobre escrita, espero que esse texto tenha inspirado a todos a escrever mais ou assistir a filmes com os olhares mais treinados e atentos!

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