quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

1602




A versão medieval dos personagens

Imagem: http://midia.ambrosia.com.br.s3.amazonaws.com/wp-content/uploads/2008/10/1602-marvel.jpg


1602 é uma mini-série em 4 edições, publicada pela Panini Comics durante os meses de maio, junho, julho e agosto de 2004, que traz o competentíssimo roteirista Neil Gaiman recriando o Universo Marvel em um cenário medieval. A trama é ilustrada pela mesma dupla responsável por Origem (mini-série que conta os primeiros passos do x-man Wolverine), Andy Kubert (ilustrações) e Richard Isanove (pintura digital), donos de verdadeiros painéis para se pendurar pelas paredes.

A saga mescla elementos da história real com outros da ficção (revelando, ao mesmo tempo, o grande conhecimento e criatividade de Gaiman). A Europa está agitada, tanto pelas disputas entre Inglaterra e Espanha por mais poder quanto por estranhos eventos climáticos que todos acreditam prenunciar o fim do mundo.

Buscando encontrar respostas para os estranhos acontecimentos, o responsável pela Inteligência Britânica, Sir Nicholas Fury, aconselhado pelo Doutor Stephen Strange, mestre das artes medicinas da rainha, contrata um bardo cego, Mattew Murdoch, para encontrar um grande tesouro dos Templários que está em Jerusalém. Strange acredita que este tesouro detém um imensurável poder. Poder este que em mãos erradas poderia trazer mais problemas do que soluções. Logicamente, os fiéis servos da Rainha da Inglaterra não são os únicos atrás do tesouro. O sinistro Conde Otto Von Doom, o governante da Latvéria, também deseja o artefato.

Em meio a todo o conflito, ainda existem os Sanguebruxos, jovens com poderes ou habilidades especiais que sofrem com o preconceito dos seres humanos e, liderados por Carlos Javier, lutam por um lugar ao sol.

A grande diversão de 1602 não é outra se não identificar os personagens do Universo Marvel tradicional num cenário medieval reinventado em que diversos elementos da história oficial são devidamente respeitados.



Os belos painéis de Andy Kubert e Richard Isanove

Imagem: http://www.scifidimensions.com/Jul03/1602_3.jpg


Ponto para Gaiman colocar ao início da trama um resgate histórico da época para contextualizar o leitor. Outro ponto por conseguir retratar sobre um novo prisma tantos e tão distintos personagens. Dá pra acreditar que aqueles personagens viviam ali até que se deram conta de que eram especiais.

O grande porém fica justamente pela caracterização de determinados personagens e pela pífia conclusão da trama. É óbvio que reformulando tantos personagens um ou outro se sairia melhor que o restante. A questão é que alguns personagens tão interessantes do universo convencional como Magneto, um defensor ferrenho de uma posição mais “pró-ativa” contra humanos a favor dos mutantes, tenha tornado-se um fanático religioso na pele de um Grande Inquisitor sem sal.

A trama é extremamente instigante quando se inicia. O mistério em torno do tesouro dos Templários é um elemento precioso na história como nos melhores suspenses literários. O que seria o tesouro? Uma arma? Um objeto sagrado? Uma pessoa? Infelizmente, a resposta para o enigma pode ser uma grande decepção para muitos leitores.

Percebe-se que a história vai bem até a cena da invasão ao castelo de Doom, na Latvéria. Ciclope lutando contra balas de canhão resgata o fervor de uma batalha da época. Depois desta cena, Gaiman tenta amarrar tudo, todos os acontecimentos e personagens com uma única explicação e esta explicação escapa do que a história propõe a princípio.

No fim, somos obrigados a ler explicações estapafúrdias sobre viagens no tempo ou falhas cronais que estão gerando um colapso na realidade de nosso universo. Parece que toda grande saga da Marvel tem que colocar a realidade em xeque. E isso põe toda a mini a perder. É triste ver que Gaiman, um escritor tão experiente, nessa altura da carreira, se encontre em uma situação em que declaradamente não sabia como terminar sua história e coloca um ponto final às pressas e pouco convincente. Descarte a última edição da mini e curta as três primeiras que, de fato, cumprem com sua promessa de oferecer diversão e entretenimento com inteligência.

Texto originalmente publicado no site
Raciocínio Rápido.

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