quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Os Incríveis



O pôster do filme

Imagem: http://www.rainboreviews.com/archive/incredibles/images/cover1.jpg


A Pixar já cativou seu lugar no mercado de animação. Suas produções são sinônimo de entretenimento de alta qualidade. É lógico que parte de seu sucesso se deve aos arrebatadores aspectos visuais de seus filmes totalmente produzidos digitalmente, mas também por seus roteiros: divertidas fábulas animadas que agradam a crianças e adultos. Sem falar nos personagens imensamente carismáticos. Quem assistiu a Procurando Nemo e não se lembra do pai super protetor Marlin? Depois de falar de brinquedos, insetos, bicho-papões e peixes, o novo filme da Pixar, Os Incríveis, traz como protagonistas os super-heróis.

Indo na contramão de outras animações que tentam reproduzir fielmente a realidade (e acabam mais evidenciando o irreal) como O Expresso Polar e Final Fantasy que mostram seres humanos idênticos a atores de carne e osso, Os Incríveis nos lembra a todo momento que aqueles personagens não existem de verdade, mas acreditamos nele. Todos os personagens são caricatos como um bom cartoon (o Sr. Incrível mal cabe no seu carro; Violeta é quase tão magrinha quanto uma vassoura), mas o visual é – mais uma vez – arrebatador e dá pra imaginar aqueles personagens caminhando entre nós. Os efeitos de luz e sombra, os movimentos e as bem produzidas cenas de ação fluem com naturalidade não dando aquele ar de “seres criados por computador”.

Esse filme leva as produções da Pixar a um novo patamar. Mais adulto que seus predecessores, oferece algumas piadas das quais apenas os adultos irão rir e trabalha com uma temática a qual homenageiam e avacalham ao mesmo tempo. Este provavelmente é o grande atrativo do filme, pois da mesma maneira que achamos ridículo alguém que coloca a cueca por cima das calças, somos capazes de torcer por determinado personagem e se identificar com ele. São ícones da infância e adolescência. Como no filme os personagens são desconhecidos para nós todos de alguma forma são referência a alguém conhecido. E identificar esses personagens é outra diversão.


Edna Moda é aquela personagem coadjuvante que rouba a cena sempre que aparece

Imagem: http://l.yimg.com/eb/ymv/us/img/hv/photo/movie_pix/walt_disney/the_incredibles/brad_bird/key_edna.jpg


A família protagonista do filme, por exemplo, para alguns é a formação do Quarteto Fantástico. Tirando Flecha (um Flash de 10 anos), temos o Sr. Incrível que é invulnerável e super forte (como o Coisa), Violeta que pode ficar invisível (Mulher-Invisível) e Mulher-Elástico que pode esticar seu corpo (Sr. Fantástico).

Mas esses poderes também são reflexos bem construídos das personalidades dos personagens. O Sr. Incrível é um cara confiante demais, a Mulher-Elástico é versátil, Violeta é tímida e vive se escondendo e Flecha é como qualquer garoto de sua idade que não consegue ficar quieto.

Na trama, os super-heróis são proibidos de salvar o mundo pelo governo, pois diversas pessoas os processavam e isso acarretava sérios transtornos para a máquina administrativa estatal. Mas podemos simplesmente viver nossa vida sem demonstrar quem realmente somos? O filme é sobre o que cada um tem de especial, mostrando um ponto de vista diferente da temática de super-heróis que nem sempre é (bem) explorada pelos quadrinhos.

O vilão do filme possui planos justificáveis e ele não deseja simplesmente “dominar o mundo”. A produção só não conclui muito bem essa conversa sobre ser você mesmo ou não, pois os super-heróis, embora utilizem seus poderes para fazer o bem, ocultam suas identidades sob máscaras. De uma forma ou de outra, eles escondem quem são. E o porquê disso não fica bem claro para as crianças ao final do filme.

Li diversas críticas sobre Os Incríveis falando da mensagem subliminar de que precisamos de super-heróis no mundo real para lutar contra o mal personificados por terroristas ou coisas do gênero. Veja bem: super-heróis não existem. Não há dúvidas que personagens deste tipo são uma prova cabal do medo exagerado que os americanos nutrem pelo mundo ao seu redor. Medo este que os impelem a acreditar em homens que voam ou escalam paredes. Mas tendo em mente esta realidade, os super-heróis são divertidos personagens que enaltecem os nossos problemas cotidianos, enxergando-os com mais clareza. Às vezes, é necessário enxergar a realidade por outro prima para descobrir o óbvio: nossa realidade é cruel e deveras absurda. Muito mais absurda que uma história em quadrinhos ou desenho animado.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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