sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Breve Romance de Sonho



Para alguém com idéias tão ousadas, Fridolin não vai muito longe

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Sentir ciúmes é uma droga. O ciúme é um dos sentimentos mais nocivos ao ser humano. Ele pode se manifestar de várias maneiras (ciúmes de um objeto, pessoa, acontecimento, etc). Pode tornar-se algo mais destrutivo como a inveja ou até mesmo o ódio. E o pior de tudo: ele nubla o raciocínio. Um ser humano ciumento pode ser alguém extremamente perigoso. Tanto para os que estão a sua volta quanto para si próprio.

Foi esse o sentimento que o escritor austríaco Arthur Schnitzler atribuiu ao seu personagem Fridolin para que este se lançasse em uma aventura nublada como um sonho. O ciúme é o estopim de uma série de questionamentos sobre a vida conjugal da burguesia da década de 1920 e as motivações por traz da infidelidade.

Em Breve Romance de Sonho, o Dr. Fridolin tem uma vida próspera com a esposa Albertine e sua filha. Um dia, toda a certeza que possui sobre sua vida (e o amor que sua mulher sente por ele) é abalada com a confissão da mulher a respeito de uma antiga fantasia sexual. Dilacerado pelo ciúme, Fridolin tem de atender a um chamado no meio da madrugada. Ao encontrar o paciente que deveria prestar socorro sem vida, Fridolin não volta para casa. A morte do paciente o faz questionar-se sobre sua vida, as razões de levar a vida que leva e o direito que possui ou não de trair a mulher já que esta o traía em pensamento.

Daí em diante, Fridolin flerta com todas as mulheres que atravessam seu caminho, desde a mais inocente das garotas até a mais profissional das prostitutas, até envolver-se em uma estranha cerimônia que une sexo e morte de forma angustiante.

Em uma idéia: Fridolin é um covarde. Ele representa toda uma classe da sociedade que por mais que conteste a vida que possui não é capaz de deixá-la para trás devido aos privilégios dos quais deveria abrir mão. Fridolin não é apenas covarde como também tolo. Ludibriado por um sentimento rasteiro como o ciúme, ele atribui a mulher crimes muito maiores do que ela cometeu na realidade.

Fica-se na dúvida se ele fez isso para justificar os seus atos ou porque não gosta mais da mulher. Ou ainda – e mais provável – por não agüentar mais a vida monótona que leva. Uma vida sem sentido e vivida dentro de uma estrutura que parece não mudar nunca, assim como não mudam aqueles que vivem sob sua sombra.

Para alguém com idéias tão ousadas, Fridolin não vai muito longe. Apesar das aventuras em que se envolve, ele jamais ultrapassa uma certa linha imaginária da moralidade. Para ele, sempre há um certo e um errado, a atitude mais adequada a tomar ou uma ação da qual não pode ser protagonista devido a seu status. Por isso, Fridolin é passivo diante de tudo que acontece ao seu redor. E de tão covarde, sem nem mesmo ter cometido pecados, é capaz de pedir perdão.

Ao fim da curta narrativa, fica claro que Albertine é muito mais corajosa e verdadeira que o marido: mesmo que suas aventuras se dêem em sonhos ou fantasias, ela os divide com o marido e os vive (mesmo que na imaginação) mais intensamente que Fridolin em suas frustrantes investidas para fugir de uma estrutura da qual não consegue (ou não quer) escapar.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

Um comentário:

Anônimo disse...

é tudo um sonho mano