sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Senhor das Moscas



Uma maneira totalmente peculiar de chegar à adolescência

Imagem: http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/78243_741.jpg


Infância conturbada. Essa seria uma possível manchete de jornais que noticiassem a história que o romance de William Golding nos conta em O Senhor das Moscas, se ela fosse verídica.

Um avião cai em uma ilha e os únicos sobreviventes são um grupo de garotos. Sem adultos, sem regras, sem autoridades, a diversão está garantida. Mas quando a fome e o receio de jamais retornarem para casa os acomete, o grupo se reúne em assembléia que elege, democraticamente, um líder. Tarefas são distribuídas e enquanto uns caçam comida outros erguem barracas. Até uma fogueira é acesa no ponto mais alto da ilha para servir como sinalização para um resgate.

Porém, com o passar do tempo, com o insucesso da fogueira sinalizadora e com a distância da civilização, o ensolarado paraíso torna-se um inferno sombrio assim como a densa noite quando ela cai. Lentamente, os garotos tornam-se mais selvagens e a ilha passa a afetar cada um com maior ou menor intensidade.

As disputas pelo poder não tardam a se iniciar, os gritos se intensificam e mortes começam a acontecer. Não bastasse isso, os jovens suspeitam da existência de um misterioso monstro na ilha que poderia pôr fim a vida deles bem antes de algum navio despontar no horizonte.

Essa obra de William Golding foi publicada em 1954. Mas em nada ela é datada. Golding conseguiu dar a seu texto um ar atemporal utilizando-se de dois recursos simples: a trama já começa na ilha e é carregada de simbolismos. Desta maneira, não sabemos em que ano (ou seriam anos?) que a história se passa ou quanto tempo ela dura. Porém, diálogos inteligentes nos fornecem pistas preciosas. E a personalidade dos personagens e suas atitudes refletem diversos aspectos de nossa sociedade.

Outra característica positiva do texto de Golding é a versatilidade do autor para nos ludibriar. A princípio, fica fácil imaginar um grupo de garotos perdidos em uma ilha deserta. Mas, não muito adiante, isso já não fica tão claro assim. As ações dos personagens tornam-se mais cruéis e volta meia o leitor há de se perguntar: uma criança seria capaz de fazer isso? É fácil esquecer dos garotos de 12 anos que reuniam-se em assembléias para decidir o que fazer depois da metade do livro. A partir daí, a inocência e o senso de responsabilidade para com seus semelhantes dá lugar a cobiça, a selvageria e ao egoísmo.

O Senhor das Moscas é uma obra com muitas virtudes e que deixa margem para múltiplas interpretações (teriam os garotos morrido e ido para o inferno para pagar seus pecados?). Além disso, possui um texto gostoso de ler e personagens fortes e carismáticos. Por essas e outras, o tomo possui um valor que merece ser redescoberto por futuras gerações.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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