sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Eros e Civilização



Obra densa esclarece Freud para o grande público

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O filósofo Herbert Marcuse nasceu na Alemanha e radicou-se nos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial. Formou-se pelas Universidades de Berlim e Friburgo, foi conferencista em Harvard e Colúmbia. Professor de Política na Universidade de Brandeis e Professor de Filosofia na Universidade da Califórnia. Marcuse também é autor de Ideologia da Sociedade Industrial, Contra-Revolução e Revolta e Idéias sobre uma Teoria Crítica da Sociedade, entre outras obras.

Em Eros e Civilização, o autor baseia-se na teoria freudiana de que vivemos numa sociedade que reprime os instintos primários de seus indivíduos para dissertar sobre esta civilização. A livre satisfação destes instintos não permitiria o progresso de uma sociedade civilizada. Marcuse acredita que essa repressão cria as precondições para uma eventual abolição deste sistema e transformação da sociedade.

Um leitor que não tenha lido Freud não terá muitos problemas com a obra, pois sua primeira parte, intitulada “Sob o domínio do princípio de realidade”, busca apresentar os conceitos básicos de sua teoria. Este trecho da obra apresenta os mecanismos de funcionamento da psique humana segundo a teoria freudiana: o Id, o inconsciente, onde nossas fantasias se fixam e os valores impostos pela sociedade de repressão não possuem efeito; o Ego, a parte de nossa psique que conscientemente interpreta o mundo externo e o Superego, a ponte entre o mundo externo e o Ego, o local de nossa mente onde repousam valores morais que aprendemos desde a infância.

A primeira parte explana como se dá a substituição do princípio de prazer (satisfação imediata, prazer, júbilo, receptividade, ausência de repressão) pelo princípio de realidade (satisfação adiada, restrição do prazer, esforço, produtividade, segurança) imposta a todo indivíduo desta sociedade de repressão. E explica os dois planos em que a análise do aparelho mental repressivo de Freud possui efeito: o Ontogenético (a origem do indivíduo reprimido) e o Filogenético (a origem da civilização repressiva).

Segundo Freud, a civilização primitiva atendia seus instintos primários de imediato e isso não permitia um progresso. Uma evolução se iniciou quando o indivíduo deixou de lado a satisfação imediata para praticar atividades menos prazerosas, mas necessárias para a sociedade. Foi o início de uma substituição das vontades particulares pelas necessidades universais. Desde então, utilizamos nossas forças libidinais para a efetuação de outras atividades. Mas, particularmente, não temos a necessidade de trabalhar. A labuta é importante para a sociedade, não para o indivíduo. Para este, o trabalho apenas o faz sentir-se mais valiosos, cumpridor de sua função numa enorme engrenagem.

Na segunda parte da obra, intitulada “Para além do princípio de realidade”, o autor busca apresentar a hipótese de uma sociedade não-repressiva. Para atingir tal intento, ele busca na literatura os heróis culturais, personagens como Orfeu e Narciso, que lutaram contra essa renúncia de suas necessidades primárias. Apresenta as forças mentais que, segundo Freud, são independentes do princípio de realidade por sua falta de praticidade no mundo real: a fantasia e a dimensão estética, que se manifestam através da arte, por exemplo. E mantém-se vivas em nosso inconsciente como uma válvula de escape.

Porém, Marcuse acredita que uma civilização não-repressiva só seria viável quando a sociedade atingisse um alto grau de maturidade, necessário para reavaliarmos as relações de trabalho e entre os indivíduos que seriam completamente alteradas. Uma civilização assim, nos dias de hoje, seria uma barbárie. Além de que, segundo Freud, “a natureza não conhece o verdadeiro prazer, mas a satisfação de carências”. Parece necessário ao ser humano um obstáculo para “impelir a maré da libido ao máximo”.

Ao final de Eros e Civilização, Marcuse apresenta um epílogo, onde critica os revisionistas neofreudianos afirmando que algumas de suas propostas são errôneas e destoam com a teoria de Freud.

Eros e Civilização fala sobre o desenvolvimento da civilização através da análise de comportamento da sociedade e de seus indivíduos. Sem dúvida uma leitura interessante e recomendada, porém, tratando-se de um assunto muito específico, a psicanálise, a obra pode não agradar aos leitores pouco interessados pela área.

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. 232 p.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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