quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Algumas palavras sobre Harry Potter e seus filmes



Um dos pôsteres da produção

Imagem: http://www.impawards.com/2001/posters/harry_potter_and_the_sorcerers_stone_ver4.jpg


A primeira vez que ouvir falar que fariam um filme com Harry Potter eu tinha acabado de ler o terceiro livro e fiquei contente. Na minha opinião, descobriram uma obra interessante que, sem dúvida, daria um bom filme. A expectativa cresceu com a chegada do lançamento de Harry Potter e a Pedra Filosofal e quando finalmente adquiri meu ingresso a decepção foi enorme.

Os cenários eram lindos, o personagem parecia que tinha sido arrancado do livro, os elementos estavam ali, mas aquela atmosfera, o que eu via não era Harry Potter. Dúvidas pairaram sobre a minha cabeça: Cadê aquele clima? E aquelas sacadas legais que faziam a leitura tão divertida? Onde foram parar aquelas cenas que eu considerava chaves? Que filme é esse que traz como melhor cena (a do jogo de quadribol), uma cena que não acrescenta muito a história e é totalmente dependente de efeitos especiais? E a maior das dúvidas: Por que o livro é um milhão de vezes mais mágico que o filme?

Lido alguns textos depois eu cheguei a uma conclusão a qual eu teria chegado antes se fosse um pouquinho mais entendido de cinema: Adaptação. O problema era isso! O primeiro filme exibia cenas do livro e pronto. O diretor Chris Columbus lia uma página e filmava, lia outra e fazia o mesmo. A culpa era daquele diretor infeliz que não sabia o que significava adaptar. Adaptar é o mesmo que adequar, pôr em harmonia. Tornar possível a utilização de uma obra de uma mídia (no caso, a literatura) em outra (no caso, o cinema).

Veja bem: jogar inúmeras informações de uma obra impressa (a qual podemos voltar e reler quantas vezes forem necessárias para absorvermos tudo) num filme (um tipo de obra mais rápida que nos exigia captar uma informação na primeira vez em que ela aparece) é um grande erro. Você pode falar, "mas quando vejo um filme posso aperta 'voltar' e ver novamente". Sim, quando você vê um filme na sua casa. No cinema, não podemos falar para o projetor: "Ei, volta essa cena que eu não entendi".

Assim, minhas questões foram respondidas aos poucos. Cadê aquele clima? Aquele clima foi pro espaço com aquelas cenas curtas (o filme parece uma série de quadros desconexos entre si) intercaladas por cortes bruscos. Isso aconteceu porque o Chris quis colocar mais informações que o necessário. E aquelas sacadas legais que faziam a leitura tão divertida? Isso é um problema do cinema, no caso. A obra original é um livro que utiliza recursos estilísticos próprios da literatura que não poderiam ser "filmados" na tela grande. Isso perde-se mesmo. Ou poderia ser posto de outra forma por um diretor mais visionário, valendo-se dos recursos próprios da linguagem cinematográfica.




O primeiro pôster de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o primeiro filme da série

Imagem: http://www.impawards.com/2001/posters/harry_potter_and_the_sorcerers_stone_ver1.jpg


Onde foram parar aquelas cenas que eu considerava chaves? Elas desaparecem em detrimentos de cenas menos importantes que agradariam os fãs. Que filme é esse que traz como melhor cena (a do jogo de quadribol), uma cena que não acrescenta muito a história e é totalmente dependente de efeitos especiais? Neste ponto, podemos observar a visão restrita de um diretor extremamente comercial que pensou na magia que aparece nos livros como sinônimo de efeitos especiais. Estes são o grande atrativo do filme. Mais do que a história, os personagens ou as emoções em jogo. E a maior das dúvidas: Por que o livro é um milhão de vezes mais mágico que o filme? Porque o livro não foi escrito pelo Columbus (rs). Na verdade, talvez porque EU goste mais de literatura do que cinema, não sei dizer. É uma pergunta subjetiva e pessoal demais para responder com certeza.

Enfim, não dava para ir ao cinema esperando ver esta ou aquela cena do livro e meus anseios diminuíram bastante quando assisti a Harry Potter e a Câmara Secreta. Talvez por isso tenha achado a seqüência menos ruim. O grande defeito do primeiro filme foi suavizado: aquela terrível sensação de estar assistindo a uma série de episódios e não a um filme. Praticamente todas as cenas tinham alguma importância para estarem ali e faziam a história andar (o que não acontece no primeiro) e não aparecem somente para agradar aos fãs do livro. Lembrem-se: tem muita gente que nunca leu os livros e quer apenas curtir uma sessão de cinema. Eu arriscaria dizer até que algumas cenas desse segundo filme superam as do livro, principalmente nas de ação. Mas, no meu conceito, ambos os filmes estão a quilômetros de distância de entrarem numa lista de grandes filmes.

Uma cena que demonstra minha frustração com a Câmara Secreta é justamente no seu final: a cena em que as lágrimas da Fênix curam as feridas de Harry. Quem assistiu ao filme me diga: o que era aquilo? Por favor, aquela infeliz cena parecia final de filminho B da Sessão da Tarde! No livro, é uma cena muito bacana que denota esperança e dá forças para o protagonista antes de sua prova final. O que foi que fizeram?

Há um detalhe que gosto de falar para todos prestarem atenção: as cenas em que Harry chama sua coruja pelo nome foram todas editadas em HP e a Pedra Filosofal, ou seja, quem não leu o livro e apenas viu o primeiro filme não sabe que aquela linda coruja branca chama-se Edwiges. O mais engraçado é que em todas as cenas do segundo filme em que a coruja aparece, Harry a chama pelo nome. Talvez esta foi uma precaução do Columbus para não editar o nome de Edwiges novamente, ou seja, se a coruja aparecer, dirão o nome dela (rs). Pode reparar.

Para alguém como eu que leu os livros, parece que pegaram as obras e as esfaquearam (assim como Harry fez com o diário de Tom Riddle). E não falo isso por cortarem cenas dos livros (tem muita coisa ruim e chata que não devia aparecer mesmo), mas por os filmes não captarem o clima, a substância, o espírito, a verve da Rowling, sei lá, o que faz da obra literária um entretenimento bacana.

Foi então que anunciaram que o diretor do terceiro filme seria outro e as coisas poderiam tomar um novo rumo.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

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