sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban



Pôster da produção

Imagem: http://www.sauer-thompson.com/junkforcode/archives/HarryPotter%2BPrisoner.jpg

Não é qualquer diretor que mostra na primeira cena de seu filme a que veio. Alfonso Cuarón faz muito bem isso numa cena em que coloca Harry sugestivamente debaixo das cobertas de sua cama na seqüência que inicia Harry Potter e o Prisioneiro de Azkban, a terceira parte das aventuras deste simpático jovem bruxo.

É sempre bom lembrar que num filme evento como esse em que diversos interesses e um orçamento de 130 milhões de dólares estão em jogo, ter liberdade criativa é um desafio. Alfonso faz o que pode já que tinha que responder ao que fazia para, desde a criadora do personagem, J. K. Rowling e os estúdios Warner, passando pelos fãs até ao faxineiro dos sets de filmagem.

Ao contrário do pau mandado do Chris Columbus, este novo diretor deixa de lado a falta de ousadia e bom mocismo dos filmes anteriores para contar uma história mais sombria e madura que, por muitos, é considerada a melhor dos livros. Neste ponto, Cuarón teve sorte, pois uma boa trama já era boa parte do caminho percorrido. Mas não saber contar esta história seria um erro. Que, felizmente, não foi cometido.

Ele fez o que já deveria ter sido proposto antes: vamos esquecer os livros. Nas obras literárias há tramas e subtramas. Ora, um filme de duas horas e meia não pode percorrer todos estes caminhos. Ele precisa ser mais bem amarrado, então deixemos de lado os excessos para apresentar a trama principal e aproveitar melhor alguns bons personagens secundários (que sempre foram limados nos longas anteriores).

E justamente por mudar tantas coisas (o que parece desagradar muita gente) este é um filme bem superior aos seus antecessores. Mudar é a questão. Eu que li o livro prefiro ir ao cinema para ter surpresas e não ver filmada cenas que já conhecia previamente.

Isso tudo é irônico. A mudança de diretor acontece bem no filme que é a hora da virada para Harry Potter. Nesta aventura, tudo muda para o rapaz: ele está deixando de ser criança para entrar na adolescência, seu mundo de fantasia perfeito e infantil torna-se mais adulto e magicamente perigoso e o velho maniqueísmo (bem versus mal) fica para trás. Não poderia me expressar melhor do que Érico Borgo, em sua resenha para o site Omelete, "a divisão entre o bem e o mal não é mais aquele preto e branco contrastante das suas aventuras anteriores. Agora, como nas paisagens sombrias registradas por Cuarón, há uma gama de cinzas que mudará sua vida para sempre."





Wallpaper do filme

Imagem: http://www.fwallpapers.net/pics/movies/harry-potter-and-the-prisoner-of-azkaban/harry-potter-and-the-prisoner-of-azkaban_000.jpg

Em seu terceiro ano letivo em Hogwarts, Harry toma conhecimento da fuga de Sirius Black da temida prisão de segurança máxima para os bruxos, Azkaban, da qual ninguém escapara anteriormente. E todos suspeitam de que este ex-presidiário, antes aliado do grande vilão da série, Voldemort, está atrás do último descendente do clã Potter. Para protegê-lo e guardar Hogwarts, os guardas de Azkaban são destacados. A questão é que os dementadores podem significar mais problemas do que solução.

Adorei os dementadores que ficaram diferentes dos Espectros do Anel de O Senhor dos Anéis. Esses seres são como almas penadas que sugam a felicidade (e a alma) das pessoas felizes ao seu redor tirando-lhes a alegria de viver. Assim, as pessoas que sofreram grandes traumas durante suas vidas são tão vulneráveis a elas. Os dementadores são praticamente a personificação do medo e da depressão. Preciso dizer por que Harry Potter terá tantos problemas com eles?

Numa história que flerta com a sexualidade e a morte (temas que não cabiam nas tramas anteriores), o diretor encontra ainda espaço para humor refinado e negro. Há piadas que só os mais velhos captarão e piadas das quais não podemos deixar de rir. E claro muitas cenas bonitas.

O vôo de Harry no hipogrifo é minha preferida e, para mim, a única que nos três filmes captou o espírito da série de livros. Um garoto com problemas que o perseguem desde antes de nascer e que ele não sabe o porquê, mas que encontra nos raros momentos de descontração uma válvula de escape para curtir o que a vida pode oferecer de bom. Destaco as cenas que marcam as mudanças de estação com ênfase para a folha caindo demonstrando a chegada do outono. É sublime. Neste filme sim, podemos perceber que a história acontece durante um ano inteiro.

O filme não é perfeito, mas um entretenimento bem a frente da Pedra Filosofal e da Câmara Secreta. Acho que dois detalhes que foram suprimidos do filme não poderiam faltar: explicar como Sirius escapou de Azkaban e quem são os autores do Mapa do Maroto. Acho que este último detalhe é importante, pois cria uma ligação entre Harry e seu falecido pai.

As atuações são bacanas, o trio de protagonistas cresceu e conseguem ser mais verossímeis no que querem mostrar. Entre os atores mais jovens acho apenas que Tom Felton, o ator que interpreta Draco Malfoy estava melhor na Câmara Secreta. Em Azkaban, ele ficou patético com momentos exageradamente afeminados. Não gostei. Gary Oldman é Sirius Black e é uma pena aparecer tão pouco. Emma Thompson é muito divertida como a professora de adivinhação nas (apenas) três cenas em que aparece. O professor Lupin de David Thewlis torna-se tão querido e paternal quanto no livro sem ser piegas e Michael Gambon (que substitui o falecido Richard Harris) imprime um novo ar ao professor Dumbledore que dispara a todo momento frases que dançam em volta de uma tênue linha que separa a sabedoria e a loucura.

Enfim, este filme provocou em mim um efeito contrário ao primeiro filme, ele aumentou minhas expectativas com relação ao próximo (HP e o Cálice de Fogo) que é o meu livro preferido. O Prisioneiro de Azkaban vale a pena por sua proposta de transformação que traz (assim como a vida nos transforma) apresentando em um mesmo filme seres sugadores de almas e a inocência de dizer as seguintes palavras secretas para revelar um mapa mágico: Juro solenemente não fazer nada de bom.

Texto originalmente publicado no site Raciocínio Rápido.

Nenhum comentário: